UM LUGAR SECRETO

Capítulo 11 - A estrada

Assim que chegamos de volta a minha casa devolvi o capacete e olhei em seus olhos.

_ Fica bem Arthur.

_ Precisamos conversar.

_ Não posso, preciso de um tempo.

_ Estarei aqui, te esperando. Leve o tempo que precisar.

Virei as costas, fui direto para o chuveiro e chorei.

De saudade, de ausência, de todos os momentos que vivi com Heitor.

Não sei quanto tempo demorei.

Vesti uma bermuda jeans e uma camiseta branca, um tênis, coloquei as coisas na camionete e fugi para o Rio.

Sim, eu fugi porque não saberia lidar com Arthur.

Precisava de distância para respirar.

Para completar meu estado de espírito liguei o Spotify na rádio de Reggaeton a todo volume e voei pela estrada. Não quero pensar!

Enquanto dirigia cantei aos berros, dancei, rebolei que nem uma louca, até chegar em meu apartamento.

Tinha 125 mensagens no meu zap.

Parecia que de repente todo mundo precisava de mim urgente!

Enviei um "cheguei bem" a todos e não dei maiores informações.

Não podia.

Não queria.

Aquele era meu momento!

Morar só, no Rio de Janeiro era tudo de bom.

Ninguém dava bola para a vida de ninguém.

Dormi.
Apaguei.
Sumi.
Desintegrei.

Só acordei no outro dia às 4:45  da manhã. Roxa de fome.

Fiz café e um sanduíche e fui até meu escritório.

Fiquei escrevendo até as 11 horas e fiz almoço.

Adoro fazer uma comida quentinha para mim mesma.

Aprendi a me cuidar.

A me amar.

Não  depender do amor de outros.

Assei sobrecochas de frango com batata doce, cenouras e chuchu com uma salada verde.

Minha comida me fez sentir melhor.

Agora estava preparada para enfrentar o mundo.

Minha editora ligou e ficamos quase uma hora combinando o lançamento de um novo livro quando o telefone fixo tocou.

_ Alô?

_ Mia, é Arthur.

_ Oi Arthur, como está? Então, como está sua nova moradia?

_ Por que você fugiu?

_ Não. Entendi.

_ Por que você foi embora sem uma palavra?

_ Porque eu tenho uma vida? Porque era para vir ontem?

_ Quero conversar contigo.

_ Querido, a única coisa em comum que tínhamos foi espalhada nas águas do mar, conforme seu último pedido. Eu e você nunca nos vimos, além do aluguel da fazendinha, não temos nada o que falar.

_ Pensei em nos relacionarmos. Você mexeu profundamente com meus sentimentos.

_ Quero que fique bem claro que não estou interessada.

_ Como pode dizer isso, assim, tão fria?

_ Estou evitando contato com homens de poder. Não preciso mais disso em minha vida. Você me cheira a encrenca Arthur! Preciso desligar. Tenho um compromisso.

_ Quando posso te ver novamente?

_ A gente se esbarra por aí. Passe bem.

Minhas pernas estavam moles como gelatina.

Sentei no sofá tremendo, mas com a certeza de ter feito a melhor escolha.

Não quero mais problemas, minha vida está como eu gosto.

_"Só, carente, com um puto tesão só de escutar a voz dele."

_ Cala a boca Zoe!