Doce I

32 4 0
                                    


Bastante das coisas imagino, vá lá
saber. Pode ser o jeito do seu cheiro. A
indecência curta e sossegada de seus
cabelos. Como o fogo, tem intenção de
queimar, mas não ainda. Espera paciente,
sorrindo, agradece. Quando passa rente e
me escapa um olhar, congelo. Põe-me
gelo no dorso e a vida vai acabar a
escapar-me das veias.

Um anel vermelho ou roxo, qualquer cor
forte, escarlate. Qualquer cor não
cinza. Senti-me o homem mais bobo do
mundo ao olhar-te de longe, inquieta, ao
telefone. Coisa mais brega que pousou na
tua sopa. Lembro do seu jeito e escapa-me um
sorriso. Quase um palavrão, talvez no
próximo. Quase perto. Desvio de
mapa e é quase aqui.

Ando há passos largos ao abismo. Qualquer
coisa vazia me é solidão e qualquer
solidão me é sufocante. Não sei o que se
passa por aí, mas se puder construir
seu olhar em meu pensamento sempre que
fechar os olhos, investirei em comprar seu
cimento, e se puder sentir o vazio em tudo,
menos em meus pulmões, procurarei
modo de pegar-lhe emprestado o ar.


Natureza ImpostaWhere stories live. Discover now