Impasse

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Sei que tenho que escrever sobre
coisas novas. O poema novo
sobre o poema velho. O 
poeta novo espelho no
poeta velho. Sei que tenho
aquele velho dever de
opinião. Jardim das
Acácias. Aliás, de que
deve valer, nobre leitor,
saber de minhas 
platonices? O mundo é
farto de pobres de
coragem e pseudo-cheios de
alma, como eu. Onde isso 
pode me levar? Onde isso 
pode te levar? Quero
dizer-lhe coisas relevantes! quero
transpirar novos modos de
ver o mundo! quero aprender a 
cantar rasgado! de
alma! de garganta!

Poderia viver de fazer antigas
listas. Não sabia nada sobre política
com 21 anos de 
idade. Era apaixonado por 
materiais de engenharia. Sabia um
tanto sobre instrumentos de
medição, linguagem de
programação e software de
desenho. E eu, o que faço
com esses números? Sou
quase tão triste quanto um
homem que quer ser
ferreiro. Estarei fadado à 
metafísica dos engenhos à
qual se referia Álvaro de
Campos? Eh-lá-hô grandes
máquinas! Tenho os lábios secos, ó
letras, de vos ler demasiadamente de
perto. Perdoe-me, crítico. O que
sei de gramática aprendi com
esses homens de outrora, gente comum.

Que arma usarei para
revoltar-me? Tenho esse
lápis e só escrevi com ele o que não
interessa a ninguém. Arte pela
arte. Ao menino de 97 ninguém
tem absolutamente nome nenhum
para chamá-lo. Não é ele quem
escreve essas linhas. As letras
saltam e são elas que
gostam de colocar o
mesmo número de versos em
cada estrofe e não rimam
soluções. Que diferença
pode fazer? De quem é o
cavalo na moeda de 10
centavos? Alguém vai
reparar se essa estiver menor?

Natureza ImpostaWhere stories live. Discover now