Bolo com Nome

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I - Posses e Podendos

Me ajude a pisotear todos esses
livros. Depois nos
sentaremos, daremos risadas, e
limparemos cada um
deles. Sozinhos? Eles ficariam
apodrecendo no chão do
quarto. Embolorando nos
cantos da casa até que crescesce
mato e uma pequena semente me
diria, brotando, se dá ou não
pequi nessas terras do sul.

Me ajude a rasgar todas
essas roupas que entopem os
armários de casa. Tanta
sujeira escondida nos
bolsos das camisas e nos
cintos que eu nunca tiro das
calças. Tanta pobreza
pode ser contornada por um
simples sorriso seu. Depois,
pode me mostrar seus
dotes de costureira que te
ajudo a colocar a linha na
agulha. Podemos costurar o
céu nessa minha camisa
azul piscina. Meio mágico o
momento em que você apareceu.

Grande chute em que tudo
desmorona. Podemos pôr
fogo em tudo, inclusive em
nós. Injetar tintas em nossos
corpos com palavras
lindas e de difícil
compreensão. Nos
sentar no chão da capital do
seu país e olhar o
sol deitar ou levantar, enquanto
decidimos se algum dia
voltaremos a dormir. Ah,
podemos tantas coisas! Vamos
ficar ao relento.

II - Estrelas que Sorriem

Minha mãe tem medo de
roda gigante. O problema
não é a velocidade, é a
altura. É o mesmo
problema de Ícaro.

Eu não tenho medo. Todas
aquelas escadas de alumínio
balançando da minha época de
eletricista. Aprendi algo,
afinal. Eu viajo contigo
nessa roda. E roda. E
brilha. E estatelada. Eu
viajo contigo. Mesmo se
cairmos, o seu sorriso
nunca vai descer do
campo dos meus olhos.

Então, talvez, eu nunca
mais possa ir embora.

E como último podemos, o
raio ou o relâmpago,
não, não o do sequestro,
talvez não brilhe mais que
a tinta que se forma dessa
caneta para te entregar um
último, não, não o podemos,
verso estarrecido.

Natureza ImpostaWhere stories live. Discover now