XXIX

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A vista da aurora invade o quarto do casal. Edmond, por poucas horas, foi capaz de abandonar seu sonho sombrio e adormecer nos braços da esposa. Agora acordado, olhando para o teto, ele encara os afrescos pintados dos quais ele nunca havia sequer parado para observar. Havia um anjo, muito peculiar, diferente dos outros, vestido de verde.

Ele salvava o resto de céu e devolvia as estrelas aos seus lugares, e os desenhos contavam essa história. O anjo, diferenciando-se de qualquer representação do período renascentista, possuía cabelos castanhos. Entretido com a pintura acima de sua cabeça, ele não percebe que Tayla também acordou e agora o encarava. 

- O que está olhando? - ela questiona, ainda abraçada com ele deitado na curva de seu pescoço.

- Eu sempre desconfiei que você era um anjo, mas nunca soube que você sempre me protegeu. - Edmond diz, levemente assustado pois não imaginava que a esposa também tinha acordado. - Ela não se move, mas solta uma risada pequena e a conhecer seus modos Edmond pode jurar que seu rosto forma uma perfeita indagação.

- Do que está falando? - Tayla agora passava os dedos por seus cabelos, delicadamente, fazendo cachos.

- Olhe para aquele anjo. - Edmond aponta para os afrescos e Tayla solta os cabelos do conde para observar o teto. - Não precisa para de tocar em meu cabelo para observar o teto, você pode muito bem fazer as duas coisas. - Ele diz, implicando com a esposa. Tayla começa a rir novamente.

- O anjo vestido de verde? - Ela questiona e ele concorda coma cabeça. - O que tem ele?

- É você. Vestido do verde esmeralda que você carrega nos olhos, Salvando as constelações com a palma da sua mão. É minha salvadora. - ele diz, sincero, mas não tão verdadeiro, pois tinha segredos que ele gostaria de contar. - Aceitou se casar comigo e ainda permanece comigo.

- Eu preciso mesmo dizer que não me arrependo do que fizemos? Se todos os caminhos que trilhei me levaram até você, eu não mudaria nada para ter um rumo diferente. - Tayla admite, os dois ainda encaravam o teto pois agora não conseguiam se encarar. Nenhum deles conseguia dizer que professavam amor mais puro e simples em sua convivência.

Eles diziam coisas como: gosto de passar o tempo com você ou até mesmo "não mudaria nada em minha vida", mas nunca disseram o tão famigerado: "eu te amo". Uma frase tão simples que se complica por si só. Se o "eu te amo" era tão simples, por que nenhum dos dois era capaz de dizer? Por que essas palavras eram tão poderosas e tão cheias de significado que assustavam até mesmo o Lobo a Rigor e a Dama das Chamas?

Edmond podia jurar que Tayla gostava dele e sentia por ele gratidão... mas era de amor que ele precisava. Ele precisava que ela o amasse suficientemente para não deixá-lo depois de descobrir que perdia a visão aos poucos.

Todo este tempo, sua mãe e sua avó estavam cientes de suas complicações. Mas nenhuma moça da sociedade gostaria de se casar com um homem que não pudesse admirar o quanto ela estava bonita em um vestido novo. Edmond seria facilmente descartado, por melhor partido que fosse. Nesse sentido, o cheiro havia se tornado muito importante pra ele depois de perder parte da visão.

- Você é o anjo do afresco no teto sobre nós, Tayla. Você protege as estrelas, você me protege.

- Ora, eu posso ser facilmente comparada a um anjo, mas você com toda a certeza não é uma estrela ou uma constelação. - Tayla dispara e Edmond se permite, por fim encará-la.

- Me deixou profundamente magoado essa sua colocação. - Edmond diz, divertindo-se, segurando o peito como quem simula uma dor no coração.

- Você é uma galáxia inteira, meu querido. - Tayla diz e começa a se afastar. - Agora chega dessas futilidades e melosidades por que eu estou extrapolando a minha dose de fofura nesses últimos dias. O piquenique é em algumas horas e eu não posso me atrasar. Muito deve ser preparado para este encontro. - ela levanta e vai até seu armário, resgata de lá seu creme para as assaduras e estende para Edmond. - Me ajuda?

Quando Um Conde Se ApaixonaOnde histórias criam vida. Descubra agora