Cp. 44

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Jason.

O Kenny chegou com a banda, eu alugava o lugar para que eles viessem ensaiar aqui no porão, apesar de não me dar muito bem com o baixista Ryan, que agora está fazendo o vocal também já que eles estão sem um. Kenny é meu amigo das antigas e o que eu pudesse fazer para ajudá-lo eu fazia. O barulho da Boate não chegava aqui e vice-versa. Gael foi embora já, disse que tinha um compromisso. Julian e Nash ficaram para ver o ensaio.

Os meninos estavam com fome e ficando sem paciência, então pedi para Megan trazer umas pizzas e uma caixa de cerveja. Assim, dava para alimentar todo mundo. Expliquei como fazer para chegar no stúdio. Não sabia direito se ficava feliz por ela vir atrás de mim ou se surtava porque tinha deixado essa mulher entrar no meu refúgio sagrado. Resolvi ficar indeciso e me focar no trabalho até ela chegar.

Alguma coisa estava rolando com a banda, metade não se falava, e o Kenny tocou três de cada quatro músicas fora do ritmo. Na sexta vez que eles teve que começar tudo de novo, já estava com vontade de matar todos aqueles moleques, principalmente o Ryan que se achava o líder da banda. Bati as mãos na mesa de som e a desliguei. Estalei os dedos das duas mãos e fui até eles. Eles estavam se olhando feio, e o Ryan estava fazendo careta para mim.

- O que está pegando? - começou Ryan - Hoje é nosso último dia de ensaio. - fiquei girando o anel que uso no indicador e olhei bem nos olhos dele. Se esse moleque acha que vai me impressionar com esse excesso de confiança adolescente e seu talento medíocre é porque não me conhece.

- O que está rolando hoje? Vocês estão uma droga. Uma merda mesmo. Não sei o que estão fazendo, mas é um lixo. Será que esqueceram que são uma banda, e que isso significa que precisam tocar a mesma música ao mesmo tempo? O que está pegando?

O Ryan estufou o peito, e o Kenny colocou a guitarra no chão. Os outros dois moleques que tocava bateria e o segundo guitarrista fizeram careta para mim. E o Ryan veio em minha direção e me enfiou o dedo bem no meio do peito.

- Calminha aí. A gente está pagando pelo lugar, esqueceu?- tirei a mão dele do meu peito com um tapa e espremi os olhos, de um jeito ameaçador.

- É. Estão me pagando para ensaiar para a turnê de vocês, para que nos shows possam chamar a atenção das grandes gravadoras, para conseguirem um contrato. Não um som que parece que um monte de panelas caiu do armário da cozinha. Então, que porra está rolando? - o Kenny socou um dos pratos da bateria.

- É, Ryan, por que você não conta para ele o que é que está rolando? Por que não conta que falou para aquela jornalista da revista que foi você que compôs todas as músicas que eu e Jason escrevemos e que fez todos os shows que a gente fez? Por que não explica para o Jason que a gente é só seu empregado? - aí ele socou o prato de novo e concluiu - Você não precisa da gente, certo? Por que não vai em frente e termina o ensaio sozinho? Para mim, chega!

Dei um passo para trás, para o Kenny conseguir contornar aquela bateria gigante. Foi lindo ver o Ryan ficar roxo de vergonha. Ele olhava freneticamente para mim e para bateria. Cocei o queixo e encarei o moleque com um olhar inquisidor.

- Você sabe compor? - perguntei - Sabe juntar uma melodia e um refrão do jeito que o Kenny sabe? - ele franziu a testa e engoliu em seco.

- Não.

- Sabe tocar guitarra?

- Não.

- Sabe tocar bateria?

- E o que é que isso tem a ver? - fiquei me balançando, cruzei os braços na frente do peito.

- Você é um artista solo, Ryan? Se for, a gente precisa jogar fora todas as faixas que vocês já gravaram e começar tudo de novo.

O Homem da Boate. Onde histórias criam vida. Descubra agora