Cp. 54

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Eu estava evitando ir para casa durante a tarde porque tinha uma possibilidade remota de eu encontrar a Megan. Mas não estava mais aguentando ficar com aquelas roupas e resolvo arriscar. Solto um palavrão bem alto quando vejo o carro dela parado na garagem. Aperto os dentes e decido que já sou bem grandinho e posso encarar um encontro com ela, mesmo que vê-la me cause uma dor terrível. 

Abri a porta de casa e quase caí duro no chão. A Megan deve ter acabado de voltar da corrida, porque está usando aquelas calças pretas justas que fazem as pernas dela parecerem algo saído de um sonho erótico, um top esportivo e mais nada. Era pele demais e uma ruiva demais para eu lidar no meu atual estado de espírito. Resolvo passar direto e fingir que nem a vi gostosa desse jeito. Mas, pelo jeito, ela não concorda comigo. Põe a garrafinha de água na mesa, se encosta no sofá e olha bem nos meus olhos.

 - Como foi lá no tribunal? 

Me seguro para não perguntar como é que ela sabia onde eu estava, mas aí lembro que estou usando uma roupa toda chique e que a Sofia é a maior fofoqueira de todos os tempos. Tiro a jaqueta de couro, jogo no sofá, do lado dela, e conto até dez de trás para frente até sentir que estou em condições de falar. Queria conseguir interagir com a Megan sem vomitar nem engasgar em toda a minha amargura. 

- Deu tudo certo. - respondo. Ela vira para o outro lado. Óbvio que está tão pouco à vontade quanto eu. 

- Que bom. Fico feliz por você. - solto uma risada amarga e enfio a mão no cabelo, morrendo de raiva. 

- Pode crer. O sonho de toda criança é mandar o próprio tio para cadeia porque ele tentou foder com uma oportunidade daquelas que só aparecem uma vez na vida.

 Meu sarcasmo é uma lâmina que corta o incômodo que fica entre a gente. A Megan limpa a garganta e levanta do sofá, cruzando os braços em cima daqueles peitos com os quais eu vou sonhar para o resto da minha vida. 

- Você merece ser feliz, Jason. Merece cuidar de você mesmo pelo menos uma vez na vida. 

- É, acho que sim. 

Prefiro que a Megan cuide de mim, prefiro cuidar dela. Mas, como não tenho mais essa opção, acho que só posso cuidar de mim mesmo. Começo a desabotoar a camisa e ir para o meu quarto. Os olhos dela ficam aguçados e acompanham todos os meus movimentos. Aí, o celular da Megan toca lá na mesa da cozinha e vou buscar para ela. Fico completamente congelado quando vejo o nome no identificador de chamadas. É o Coletinho do meu irmão. 

Sou capaz de incendiar o planeta inteiro só com a força do meu pensamento. Entrego o aparelho sem dizer uma palavra e passo por ela correndo. Paro porque Megan põe a mão no meu ombro. Aqueles olhos verdes brilham para mim com uma expressão que não consigo decifrar, mas estou cansado de ela ficar brincando comigo e depois me mandar embora. Não posso mais perder o controle. Ficar tonto de tesão só é divertido até umas horas. 

- Não é o que você está pensando, Jason. Nada disso é o que você está pensando. 

A voz dela fica um pouco trêmula. Juro que queria me importar. Queria beijá-la e levar ela para cama. Queria cantar para ela, implorar para ela vir comigo na turnê, pôr uma aliança no seu dedo e pedir para ela ser minha para sempre. Infelizmente, só posso me livrar da mão dela e espremer os olhos. 

- Tô tentando não pensar nisso, Megan. 

Ela solta um suspiro de surpresa, mas vou para o meu quarto. Como não estou afim de ouvir o que ela tinha a dizer para o imbecil do James, bato a porta e arranco aquelas roupas que tão me sufocando. Bem que podia ser fácil assim me livrar desse emaranhado de sentimentos. Ponho o rock mais pesado que eu tenho para tocar no volume máximo. Se a Megan está pensando em vir atrás de mim para conversar, vai mudar de ideia. 

O Homem da Boate. Onde histórias criam vida. Descubra agora