Cp. 47

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Jason.

Eu deveria imaginar, assim que a minha tia me telefonou, chorando e apavorada, que aquela história não ia acabar nada bem. Normalmente, ela é fraca e covarde demais, para fazer qualquer coisa que não seja ficar se sentido desanimada e abatida. Mas hoje não. Hoje estava soluçando e não parava de falar que o meu tio ia matar ela.

Eu preferia continuar aproveitando o gostinho de uma manhã de sexo incrível, mas enfiei uma calça e corri para a cidade vizinha para ver o que estava rolando. Parei o carro cantando pneu na frente da casa dela. Nem me dei ao trabalho de bater, só abri a porta e, antes que eu pudesse parar para pôr a cabeça no lugar ou analisar a situação em que eu estava me metendo, meu tio me viu e veio correndo da cozinha e me atirou para fora da porta. Caí com um estrondo no concreto da calçada e vi estrelas por um segundo quando a minha cabeça bateu com força no chão.

Antes de eu conseguir me situar ou colocar as mãos embaixo do corpo para me levantar, meu tio se atirou em cima de mim e me deu um murro do lado do rosto. A pele da minha bochecha cortou, e desviei bem na hora que ele ia me dar outro soco que, provavelmente, ia quebrar meu nariz. Segurei as mãos cerradas e meio machucadas dele, e meu estômago se revirou quando senti o cheiro de bebida passada e da fúria que saía pelos seus poros.

A gente tem mais ou menos o mesmo tamanho, mas eu estava sóbrio e já tinha me metido em várias brigas nos meus bons tempos e com isso levei vantagem. Empurrei meu tio de cima de mim e machuquei o pé. Fiquei olhando para ele atirado no chão, passei a mão no rosto, que estava sangrando e fiz cara feia.

- Que porra é essa?

Meu tio começou a gritar comigo, mas minha tia escolheu justo esse momento para correr para fora de casa. Ela estava péssima, com a blusa rasgada, com o cabelo todo bagunçado. Mas o que realmente fez meu sangue ferver, o que fez o incêndio que eu me esforço tanto para controlar arder numa explosão de chamas e de raiva, foi o fato de que não só estava com um olho roxo, mas também com o lábio cortado e rios de lágrimas escorrendo naquele rosto pálido.

Ficou óbvio que, seja lá o que tenha disparado aquela fúria de bêbado do meu tio, não fui sua primeira vítima do dia. Minha tia estava choramingando que a gente precisava parar, que precisava entrar se não os vizinhos iam chamar a polícia, mas nem liguei. Cuspi um pouco do sangue que tinha escorrido da minha bochecha para o canto da minha boca.

- Eu vou te matar. - falei para o meu tio com toda seriedade que eu tinha dentro de mim. O velho se levantou, meio cambaleando, e ficou me olhando com cara de quem achava que eu é que estava errado.

- Do mesmo jeito que você matou meus sonhos? Se não fosse por sua causa e por causa dessa vadia idiota, eu podia ter continuado a fazer o que eu gostava de fazer. Conhecendo o mundo, comendo as mulheres que eu quiser. Mas não, seus pais tinham que morrer naquele acidente de carro e nós termos que ficar com você e seu irmão, vocês estragaram tudo.

As palavras dele não tinha a menor importância, não depois de deixar minha tia nesse estado. Eu só conseguia enxergar ela chorando e a ouvia pedindo para o meu tio parar. Mas não tinha mais como parar. A raiva já caminhavam pelas minhas veias, e eu não estava nem aí se elas
reduzissem o velho a cinzas.

Como ele ainda estava bem bêbado, caiu fácil quando bati nele. Ouvi minha tia gritando meu nome, mas pareceu que ela estava muito distante. Senti uma satisfação imensa quando percebi que ele estava longe de ser tão rápido quanto eu. O soco que dei no nariz dele fez um barulho de estilhaço que me deu prazer. Não sei quantos socos mais dei. Não sei quem foi que chamou a polícia, se minha tia estava chorando por minha causa ou por causa dele. Foi só quando colocaram as algemas em mim, e um policial que parecia ter a minha idade me enfiou no banco de trás da viatura, que me dei conta do que tinha feito.

O Homem da Boate. Onde histórias criam vida. Descubra agora