Para: Afonso
- leva-me para fora deste hospício
De: Afonso
- o que se passa?
Para: Afonso
- não consigo falar, leva-me para longe disto por favor
Hoje o dia não está fácil, nem quis trocar de roupa, peguei na minha mala e saí disparada do balneário. Percorri os corredores do Colombo o mais rápido possível, rezando para não encontrar ninguém conhecido, a missão foi bem sucedida até chegar ao carro do Afonso. Abri a porta sem dizer nada, sentei-me e as lágrimas caíram automaticamente. Senti as mãos do moreno a puxarem-me para junto dele, abraçando-me, o que me fez chorar ainda mais. Não sei o que se passa comigo.
- Chora à vontade – beijou-me a nuca e fiquei junto ao peito dele mais uns minutos até me conseguir acalmar – o que se passa contigo? – afastei-me, limpei os olhos com as mãos
- Hoje tudo me corre mal, enganei-me imensas vezes, os clientes levaram-me ao limite e quase que mandava um para o caralho. Para piorar, os meus coleguinhas tiraram o dia para me chatear a cabeça – fiz uma pausa – odeio pessoas!
- Queres ir para casa? Podemos deixar isto para outro dia
- Não, tu não tens culpa e se calhar até me pode fazer bem sair
- Tens a certeza?
- Sim – olhei para ele e sorri, um sorriso fraco – podemos só passar em minha casa para trocar de roupa?
- Claro, só tens que me indicar o caminho – demos um saltinho rápido a minha casa
- Onde vamos afinal? – perguntei assim que voltamos a entrar no carro
- Surpresa
- Lembra-te que eu não gosto de sushi
- Não te preocupes com isso
- Vou confiar – liguei o rádio e estava a tocar uma música que adoro, aumentei o volume – a vida tão simplesé boa quase sempre. É isso aiiii os passos vão pela rua
- Ninguém reparou na lua, a vida sempre continua – olhei para ele, sorrimos e continuamos a cantarolar – não sabia que gostavas desta música
- Eu desconhecia que sabias a letra toda – rimo-nos
Vinha tão distraída a cantar e a conversar com ele que nem reparei onde estávamos, só que tínhamos entrado num parque de estacionamento. Ele arranjou um lugar, não foi difícil pois estava vazio, lugares não faltavam. Saímos do carro, segui ao lado dele pois não fazia ideia de onde estávamos, mas assim que nos aproximamos de uma das portas que dá acesso aos elevadores percebi exatamente onde estava.
- Eu não acredito! – exclamei a sorrir
- Já sabes onde estás?
- A sério? Tu perdeste a cabeça
- Pensei que ias gostar – fez beicinho, entramos no elevador e abracei-o
- Obrigada – sussurrei, beijei a sua bochecha – melhor sítio possível para um dia como hoje
- Espero que gostes de tudo – estamos no Estádio da Luz, ele reservou um jantar para dois no restaurante daqui com vista para dentro do campo.
Assim que entramos na sala, aproximei-me da janela com aquela vista maravilhosa e fiquei só a observar, reparei algum tempo depois que o Afonso não se aproximou, fui ter com ele que já estava sentado na nossa mesa. O empregado começou por trazer as entradas e um vinho branco enquanto nós iamos conversando, jantamos e no fim ele pediu para colocarem música para dançarmos. Ao início umas mais mexidas, não sei se era o álcool no sangue, mas estava a ser bastante divertido, começava a doer a barriga de tanto rir. De seguida começou umas mais calmas, para dançar agarradinho, porém éramos os dois péssimos, eram pisadelas atrás de pisadelas, voltamos aos nossos lugares.