(Magda)
Só ouço os travões com grande esforço e o Pedro a tentar fugir parar não bater, mas foi tudo tão rápido que não conseguiu. Bateu primeiro nas rodas traseiras do camião que ia à nossa frente, levando o carro a dar uma volta, batemos com a frente no separador lateral e o carro que vinha atrás embateu-nos na lateral.
Quando isto tudo terminou, eu não conseguia ouvir nada, só via a grande agitação lá fora, mas mesmo assim não era muito nítido, pois era de noite. Olhei para a Carolina, ela não estava acordada e sangrava de um corte que tinha junto ao olho. Tirei o sinto para tentar perceber melhor o estado dela, mas mal me conseguia mexer com tantas dores pelo corpo todo.
Comecei, finalmente, a ouvir o borborim que vinha de lá de fora e um senhor veio à minha janela e disse:
- Menina não se mexa o INEM já vem a caminho.
- Eu estou bem, os meus amigos é que não. Pode ajudá-los? – respondi eu com as poucas forças que eu tinha
- Não se mexa – repetiu o senhor.
Entretanto avisto as luzes das sirenes acompanhadas por aquele som horrível. Os bombeiros abrem-nos as portas, observam o estado para saber como nos irão tirar dali. A primeira a sair do carro fui eu e disse:
- Não se preocupem comigo, que eu estou bem. Ali a minha amiga é que precisa de ajuda.
- Menina, tenha calma. Acabou de passar por um grande choque e a sua amiga irá ficar bem – disse um paramédico enquanto me levava para a ambulância para ser observada.
- Deixe-me ir ver como ela está – tentava eu empurrar o médico sem sucesso, ele lá me sentou na maca e começou a fazer perguntas: Qual o meu nome? Onde eu morava? Se me lembrava do que tinha acontecido? O que me doí-a.
Enquanto eu estava na ambulância reparei que o Pedro recuperava os sentidos e pedi que me levassem até ele, o médico não queria, contudo eu lá o convenci. Quando cheguei perto dele perguntei:
- Como estás?
- Estou ainda meio zonzo mas estou bem e tu?
- Umas dores no corpo nada demais.
- Desculpa, eu tentei de tudo para não batermos, mas o camião decidiu mudar de faixa sem dar qualquer sinalização quando o íamos ultrapassar.
- Não tiveste culpa nenhuma, Pedro. Podia acontecer a qualquer um, infelizmente foi a nós.
- Onde está a Carol? Como está ela?
- Temos que ir, o senhor precisa de ser operado a esse braço – disse o paramédico. Pegou na maca do lisboeta, colocou-a dentro da ambulância e arrancou.
Eu aproveitei a distração e tentei aproximar-me da Carolina mas sem sucesso. Ela continuava desmaiada.
- Deixem-me, deixem-me! Eu quero ver a minha amiga, eu tenho esse direito. Ela precisa da minha ajuda – e dois paramédicos empurravam mas eu continuava – deixem-me! Deixem-me – senti uma picada no braço, o meu corpo em segundos começou a perder as forças e...
Acordei, estava eu deitada numa cama, com um tubo junto ao nariz e outro no braço. Comecei a sentir aquele cheiro nauseabundo e só vinha a confirmar, estava numa cama de hospital. Tentei levantar-me mas não conseguia com as dores que tinha pelo corpo todo, então decidi chamar pela enfermeira
- Enfermeira
- Já estás acordada? – disse uma voz que me era familiar, olhei e era o Pedro que tinha o braço ao peito.