Quando menor, eu era a típica criança que não parava quieta, sempre estava com a perna ou com o braço ralado. Quebrei o braço duas vezes, o que fez com que minha mãe se tornasse um tanto mais protetora em relação a mim. Ao crescer, eu ficava cada vez mais ativa, fazia todos os tipos de coisas possíveis, aulas de flauta, canto e teclado com meu pai enquanto praticava vôlei, futebol e natação, além de dedicar boa parte da minha concentração à dança. No meu cada vez mais raro tempo livre eu desenhava ou saia com os meus amigos para andar de patins e skate.
Minha família era um tanto curiosa, éramos quatro filhos: Dylan, o meu irmão mais velho era três anos mais velho que eu. Depois dele nascíamos eu e minhas irmãs, as trigêmeas. Angélica vinha em primeiro, depois dela eu aparecia, e em seguida quase me empurrando vinha Jade.
Nossos pais, Carl e Andrea Avery, não eram ricos. Mesmo vindo de uma família de renome, meu pai se recusou a assumir a empresa do meu avô e seguiu o próprio sonho, fazendo com que dependêssemos muito mais da minha mãe, mas isso não chegava a ser problema. As pessoas nunca entenderam como eles ficaram juntos, meu pai vivia em um mundo de humanas, e minha mãe só acreditava nas ciências exatas. Ele trabalhava como músico, era violoncelista em uma orquestra da cidade. Meu pai tinha um jeito mais calmo, sempre achei que Angélica era mais parecida com ele. Já a minha mãe, era uma arquiteta, animada e ativa, ela era bem mais parecida com Jade, Dylan e eu.
Morávamos em uma casa que costumava ser dos nossos avós em Louisville. Logo depois da morte da nossa avó, meu avô deu a casa para minha família, passou a empresa para meu tio Fabrício, irmão mais novo do meu pai e mudou-se para o estado do Arizona para morar sozinho.
Meu pai quis manter a casa como antes, assim como eu, ele dava importância às lembranças e todas as histórias que elas contavam. Mas minha mãe queria modernizar a casa inteira, enquanto os dois discutiam, eu lembro de ter imaginado que minha mãe tinha medo do passado, e ainda penso isso quando ela nos faz jogar fora nossas coisas velhas.
Eu amava a minha vida, minha vó havia me ensinado que eu devia agradecer todos os tias por tudo que tinha, e era o que eu fazia. Valorizava cada experiência, boa ou ruim, até aquele dia em que eu pensei que poderia perder todas elas.
Minha mãe e eu iríamos para Evansville, onde minha avó materna morava. O plano inicial era que eu e meus irmãos fôssemos no dia seguinte com nosso pai depois que ele saísse do trabalho, mas eu não via motivos para deixar minha mãe ir sozinha, então a acompanhei.
Nunca soube ao certo o que aconteceu naquela noite, um caminhão tentou ultrapassar e bateu no carro, que foi empurrado e capotou. Eu quem recebi a maior parte da pancada, minha cabeça bateu com força em algo e depois fiquei presa em alguma coisa. Era o que meu pai dizia serem os relatos do motorista do caminhão e dos bombeiros que nos salvaram.
Eu acordei no hospital dois dias depois. Minha perna esquerda estava quebrada, eu tinha ataduras por todas as partes dos meus braços, não sentia minha outra perna e minha cabeça latejava. Lembro-me vagamente de ouvir alguém gritar e logo eu comecei a engasgar com o tubo que descia pela minha garganta, as duas enfermeiras correram para tirá-lo, enquanto minha família me cercava.
Eu lembrava detalhadamente daquele momento, Dylan abraçava Angélica e Jade perto da porta, meu pai foi até mim com um sorriso triste, acariciou meus cabelos e começou a falar calmamente.
— Oi, meu bem. Você e sua mãe tiveram uma grande aventura. O médico disse que você pode não lembrar algumas coisas, mas você é forte, sei que vai passar por tudo isso e ficar bem.
— Eu... Acho... — era difícil falar enquanto eu sentia a garganta rasgando e minha cabeça doendo intensamente, eu não compreendia nada.
— Você não precisa falar agora, apenas aperte minha mão. — fiz o que ele havia pedido e vi um lampejo de esperança em seus olhos — Ótimo, se souber quem eu sou, aperte mais uma vez. — ele olhou para minha mão, pensei se eu deveria fazer aquilo, mas não fui capaz de mentir, ainda que parecesse ser mais difícil ver o quanto ele ficou triste.
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Memórias de Saturno [CONCLUÍDA]
Teen FictionSofrer um acidente e sair viva já era algo pelo qual ela agradecia, mas Aurora acaba por descobrir que a batida deixou mais sequelas do que imaginava. Ela resolve buscar uma parte esquecida de sua vida e pega a estrada com suas duas irmãs e suas dua...