PRÓLOGO

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Maio, 2010

Guarujá, São Paulo

"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa."

O tempo, Mário Quintana.

- Mãe, vai ser bem tranquilo. – Eu estava ao telefone pela milésima vez esse mês, falando com minha mãe que ficara preocupada com minha mudança para a capital.

- Mas Luma, você vai ficar sozinha naquela selva de pedra! – Ela se exaltou, pela mesma milésima vez. – Eu vou falar com seu pai de novo, eu não aguento.

- Mãe, o pai está viajando, ele só volta semana que vem. – Luma lembrou e achou graça na tentativa da mãe enquanto fechava mais uma mala que iria para dentro do carro que estava pronto para a partida da mais nova universitária.

- Você não quer me esperar mesmo? – A mãe perguntou insegura – Luma, se você esperar até o final do dia, eu chego e te ajudo a ir.

- Não mãe, fica tranquila. – Ela olhou o relógio que adornava seu pulso. – Eu tenho que desligar, quando chegar lá, eu mando mensagem.

- Tá bem filha, vai com Deus. – Com o coração partido, Bianca desligou o telefone e voltou ao trabalho. Sua vida de enfermeira exigia plantões intermináveis que, muitas vezes, a fazia perder a metade da vida de sua criança.

Luma nascera num momento inoportuno. Não por ser indesejada, mas sim, por Bianca ser recém-formada e ainda estar dando os primeiros passos no relacionamento com Carlos, o pai, que também estava começando seu caminho na empresa em que era concursado. Ambos foram abalados pela chegada do bebê de cabelos negros, mas foram agraciados com seus sorrisos por todos os dias de suas vidas.

A sua infância foi relativamente tranquila. Saudável, encantadora, brincalhona e travessa. Luma era uma criança como qualquer outra. Ela estava feliz por qualquer coisa e costumava sempre ver as coisas boas de tudo que a rodeava. Bianca costumava dizer que Luma era um anjo em sua vida e, assim como Carlos, não estavam preparados para o que aconteceu naquele fatídico dia. O dia da mudança.

[...]

- Ortopedia pediátrica, boa tarde. – A voz de Bianca era calma e profissional. Como a de todas as enfermeiras que trabalhavam naquele hospital. O central da cidade.

- Bianca, sou eu, Carol. – A voz da plantonista da emergência fez um arrepio correr pela coluna de Bianca. Não pode ser.

- O que aconteceu com a minha filha, Carol? – Bianca já estava jogando o jaleco e se preparando para sair correndo pelos corredores do hospital. Seu aperto no peito era um sinal. Parecia que estava se concretizando agora.

- Bianca, eu preciso que você venha até a recepção. O doutor Henrique vai falar com você. – A mãe, naquele momento, só conseguiu pensar: o que o neurocirurgião queria falar com ela?

Diante daquelas indagações que surgiram uma em cima da outra, Bianca esperava o marido chegar. Ele também fora informado de sua filha e veio, correndo, até o encontro de sua esposa. Bianca e Carlos não estavam preparados para aquilo. Na verdade, nunca pensaram que aquilo aconteceria.

Fora um acidente ridículo.

O jovem estava pilotando uma moto enquanto Luma estava carregando as malas no carro que a levaria até a rodoviária. O motorista do carro estava terminando de colocar as malas dentro do carro quando Luma trancou o portão da casa e foi para a porta do carro. Abriu e quando foi se preparar para sentar foi atingida, sem ao menos ver, pelo mesmo jovem que perdeu o controle ao desviar de um animal que estava passando pela sua frente. Avançou pela calçada da casa de Luma e a atingiu em cheio. Sem chance para reação.

Sua mãe não se conformava e somente sabia chorar. Seu pai, ainda estava assimilando tudo isso. Sua filha só estava indo para a faculdade. Só estava querendo seguir seu sonho e fazer seus desenhos para ganhar a vida. Só estava querendo ser alguém no mundo. E, tudo isso, lhe foi tirado em um só momento.

Aquilo, só seria o começo de sua luta pela vida e seu pai, só iria se contentar quando sua filha voltasse sã e salva para casa.

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