CAPÍTULO 1

712 39 4
                                    

Janeiro, 2012

Guarujá, São Paulo

"Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira!" – O tempo, Mário Quintana.

- Pai, pode me trazer um copo de água? – Era domingo e estava tudo calmo. Depois do inferno que passaram, Bianca e Carlos finalmente poderiam respirar fundo novamente sem se preocuparem com a saúde de sua filha. Tudo estava se encaixando, como se nada tivesse acontecido há dois anos.

- Claro meu amor. – Carlos deixou de lado um exemplar de A Cabana de William P. Young e levantou para buscar o copo de sua menina. Ainda achava estranho a nova voz de sua criança. Mas, agora, estava acostumando a ouvir novamente a sua voz, seu sorriso e compartilhar esses momentos com ela.

Tudo o que aconteceu, foi como um borrão.

Depois do acidente, foram os seis meses mais difíceis da vida do casal. Graças a Deus, pensava Carlos, que eles tinham condições de manter um plano de saúde abastado e que sua esposa era funcionária de um hospital. Pois, depois de todo o sufoco, souberam que Deus deu uma nova vida para sua filha.

Luma ficou internada, em coma, pelos primeiros três meses. Os dias na UTI foram intermináveis para Carlos e Bianca. Parecia que cada dia que passava a dor aumentava e a esperança sumia. Tudo piorou no final do terceiro mês quando os médicos desejaram desligar os aparelhos que mantinha a jovem viva. A mãe, manteve a fé. Mesmo sabendo que, diante dos fatores, essa era a melhor opção. A mãe, junto ao pai, decidira aguentar por mais um tempo. Eles não podiam perder mais um filho.

E assim, a calmaria voltou a retornar a família.

Depois da conversa com os médicos, inexplicavelmente, Luma passou a desenvolver uma melhora assustadora. Sua mãe teve a conclusão de que suas orações estavam chegando aos céus. Que Deus estava lhe dando uma nova chance de conviver e viver ao lado de sua princesa. Seu pai sabia que todas as promessas que havia feito, inclusive a de ter mais tempo para a família, teriam que ser cumpridas, pois, como a esposa, ele acreditava que Deus estava lhe dando uma nova chance.

Pensando nisso, Carlos sempre que podia, tirava um tempo para a família. Era o caso desse domingo. Ele havia desmarcado o futebol com os amigos para passar o dia com a filha enquanto a esposa estava em mais algum daqueles plantões malucos de doze horas corridas. Ele ria sempre que lembrava o estado que ela chegava, o cansaço era evidente. Então, para ajudar, ele fazia o máximo de si para poder auxiliar sua esposa que estava dando o sangue pelo trabalho e também, por sua filha.

Ao voltar com o copo de água e mais uma garrafinha com 500ml de água, caso a moça desejasse mais do líquido, o pai retornou a cadeira que estava e abriu novamente o livro na página que estava marcada pelo marcador.

- Lê pra mim pai. – A jovem pediu depois de sorver todo o líquido que estava no copo. – Quero ouvir sua voz.

- Mas, você sempre ouve minha voz princesa. – Ele riu enquanto abria o livro na página que havia deixado de lado. – É A cabana, tem problema?

- Não pai, não tem. – A menina deixou pender a cabeça para o lado em que estava o pai. Ela lembrara que havia dito, antes do acidente, ao pai que não gostava do livro. Ela costumava dizer que era intenso demais para poder ser meramente lido.

- Então, abra bem seus ouvidos. – A voz com a qual Luma estava tão acostumada, preencheu a varanda onde estavam sentados. – "– Além disso, [...] não se esqueça de que no meio de toda a sua dor e da sua mágoa você está rodeado por beleza, pela maravilha da Criação, pela arte, pela cultura, pelos sons de riso e amor, de esperanças sussurradas e de celebrações, de vida nova e de transformações, de reconciliação e perdão. Essas coisas também são resultado de suas escolhas e toda escolha é importante, mesmo as ocultas. Então, que escolhas não deveriam ter sido feitas, Mackenzie? Será que eu nunca deveria ter criado? Será que Adão deveria ter sido impedido antes de escolher a independência? Que tal a escolha de ter outra filha, ou a escolha de seu pai de espancar o filho? Você exige sua independência, mas depois reclama por eu amá-lo o bastante para responder ao seu pedido."

JET LAG [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora