CAPÍTULO 10

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Sendai, Japão

Fevereiro, 2019

"A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará." – O tempo, Mário Quintana.

- Ele, é o mais jovem patinador artístico a estar num pódio de um gran prix dos quatro continentes. O segundo homem a ser, duas vezes medalhista olímpico na patinação artística. Yuzuru Hanyu! – O locutor disse, em japonês, enquanto o rapaz, que era ovacionado, entrava no ringue de patinação. Era uma apresentação de demonstração que corria o Japão todos os anos. Dessa vez, em Sendai, estavam presentes as famílias de Luiza e de Antônio. O que pensavam não durar, estava de pé e com esperanças futuras.

A apresentação foi magnífica. O som do rock americano ecoava por todo o estádio e ele estava vestindo sua típica calça preta colada com uma blusa azul de mangas compridas. Luma, particularmente, amava aquela roupa. Na verdade, aprendera a gostar de todas as roupas que ele usava em competições. Aprendera, também, que a patinação é muito mais do que as pessoas veem nos ringues. A patinação é quando o patinador mostra a sua alma durante um programa. Seja ele: completo ou pequeno.

Como o esperado, o público ficara feliz pela apresentação do jovem promissor. Ele já tinha uma carreira consolidada, mas muitos ainda apostavam suas fichas nele. Ele mesmo apostava mais em seus pés. Não por querer ser o mais premiado, mas por sempre trazer tantos sorrisos assim ao seu país. Sim, seu país. Ele nascera no Japão, morou no Brasil, mas o Japão sempre foi seu lar. Ora ou outra destruído, sua casa se reconstruía com força e mais garra para poder desafiar o mundo mais uma vez.

Ele mesmo desafiaria o mundo mais uma vez.

Agora, tinha uma certa garotinha, com muletas, ora ou outra brava, ao seu lado para poder desafiar esse mundo ao seu lado. Ele queria que essa garotinha ficasse ao seu lado por um bom tempo. Ele não poderia prever quanto tempo iriam ficar juntos. Poderia ser apenas mais um ano, mais dez anos ou a vida inteira. Mas, nada se compara aos momentos que viveram e aos que vivem quando estão juntos.

Ao trabalhar com o pai de Antônio, Luma conseguiu, logo depois de formada, mudar para Sendai e lá esperava, junto com a família, todo o retorno de Antônio de suas viagens. Yuzuru ganhou o mundo. Fazia turnês e mais turnês durante o inverno e as pessoas ansiavam para o ver apenas patinando simplesmente no gelo. A mudança não foi fácil, mas tudo se resolveu com o tempo. Os pais de Luma, acostumaram com as vinte e cinco horas de avião até chegar perto da filha. Pelo menos, uma vez ao semestre, estão presentes na vida da menina que, agora, morava num pequeno apartamento no centro da cidade. Antônio poderia morar com ela, mas Carlos foi enfático quando disse que ele somente permitiria isso quando a filha tivesse um belo e grande anel de ouro em sua mão esquerda.

A vida estava caminhando, aos poucos, mas estava caminhando. Luma, pela primeira vez, não se arrependia do que havia vivido até ali. De tudo o que passou e de tudo o que teve que perder para poder ganhar depois. Acompanhou momentos difíceis dos pais e estava ansiosa para acompanhar isso ao lado de Antônio.

Amor é uma palavra muito forte. Mas, que se encaixa completamente na relação dos dois.

Yuzuru encantou a plateia e, após receber os presentes que, geralmente, voam para o ringue, foi até sua família que estava parada do lado de fora. Agradeceu pela presença e foi para o vestiário. Estava, há duas semanas, ansioso para o dia de hoje. Todos estariam juntos e era uma oportunidade única. Ele já sabia do que queria e a prova disso descansava no bolso da mochila que sempre carregava para as competições.

Tirou os patins, limpou e guardou. Quando saiu, cumprimentou o treinador que, sabendo as intenções do seu garoto, foi junto e riu, comemorando a apresentação. Quando a viu, Antônio apenas pediu para o treinador segurar a mochila e ele se aproximou de Luma. Queria fazer uma enorme declaração de amor, mas sabia que com ela, ações eram a melhor declaração que ele poderia fazer. Então, quando estava a dois passos da garota que já estava com um sorriso para lhe recepcionar, ele ajoelhou e resgatou, em seu bolso, as alianças que havia conseguido com os pais. Fernando e Carlos lhe deram quando Antônio lhes confessou as suas intenções. Antônio usaria a aliança de Carlos e Luma a de Tereza. Uma união que era mais do que de um casal, era de almas.

- Tem como você só dizer sim e me abraçar? – Ele comentou quando viu a moça com lágrimas nos olhos. – Estou com frio e esse chão está congelando meu joelho.

- Ah Yuzu... – Luma não aguentou a emoção aflorar e deixou que as lágrimas caíssem. Soltou das muletas e abraçou o rapaz que já lhe amparava. Se antes, as suas pernas de metal eram um problema, hoje, eram parte dela. Achava, até que lhe dava um certo charme. Gostaria de poder prever que eles iriam ser felizes, mas isso, só o tempo poderia dizer.

JET LAG [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora