CAPÍTULO 9

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São Paulo, Brasil

Fevereiro, 2018

"Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz." – O tempo, Mário Quintana.

- Aí, quando ela levantou, arrumou o vestidinho que estava usando e veio correndo na minha direção me entregar a flor. – Bianca lembrou. – Ela escalou o morrinho todo pra pegar uma flor. – Estava contando, para Antônio, algumas das histórias constrangedoras que Luma gostaria de deixar guardada para sempre no álbum de família.

- Mãe, você não quer guardar esse álbum não? – Luma comentou enquanto passava os canais da TV no controle que se tornou seu companheiro de tarde desde que o pai tivera que ir ao trabalho resolver um problema durante as férias que conseguira para ficar com a filha e sua mãe, juntamente, com Antônio estavam desbravando os álbuns de família que Luma jurava terem desaparecido.

- Ah Furukawa-san, você é uma garotinha tão linda... – Antônio comentou zombeteiro. – Bianca, se importa se eu tirar uma foto dessas? Gostaria de ter uma comigo.

- Nem pense Antônio! – Luma exclamou brava.

- Opa, Luiza Mariana brava. – Antônio comentou enquanto ainda estava com o celular e o álbum em mãos. – Não combinamos que você iria me chamar como minha família, Furukawa-san?

- Não combinamos que você iria parar de me chamar pelo sobrenome, Antônio? – Luma retrucou. Sim, eles haviam combinado numa das tardes perdidas na rede da varanda da casa da garota. Queriam, aos poucos, serem mais íntimos. Não no sentido carnal, mas de tratamento. Ambos sabiam que os japoneses eram um pouco frios em relação a namoros, mas eles, estavam tentando quebrar um pouco essa frieza. Yuzu e Luma. Era uma boa combinação. Ele estava confortável com isso, seu nome inteiro lembrava sempre sua família brasileira ou os campeonatos mundiais. Ele queria ser apenas o rapaz que ficava com a garota. Apenas o Yuzu da Luma.

- Você quem começou a querer tirar fotos inapropriadas. – Luma reclamou. Ouviu o portão da garagem abrir, seu pai estava chegando e ficaria ao seu lado nessa empreitada.

- São fotos de família meu amor. – Bianca comentou. – Você não ficava tão envergonhada assim.

- Isso, Bianca, é porque ela não viu as minhas. – Antônio completou. – Eu acho que ela está com ciúme da senhora comigo.

- Não combinamos que seria apenas você? – Bianca comentou fechando o álbum das mãos de Antônio depois dele tirar fotos furtivas de Luma com seus vestidos rodados. – Vocês deviam passear pela cidade, já que o Antônio vai embora amanhã.

- Acho que não Bianca, quero ficar mais um pouco com ela. – Antônio disse antes mesmo da resposta de Luma. Ela iria falar a mesma coisa. – Eu só vou ver ela daqui a vinte dias.

- Eu acho bom você ganhar essa competição, rapaz. – Carlos chegou trazendo o sorvete favorito da filha. – Porque eu quero ter que panfletar aos meus amigos que meu genro é um garotinho prodígio.

- Pelo menos eu sou o genro garotinho prodígio. – Murmurou Antônio. – Seria ruim se fosse apenas o garotinho prodígio pro seu pai, certo? – Disse antes de dar um beijo no rosto de Luma que achava tudo engraçado. A relação e interação de seus pais com seu namorado era, um tanto, diferente. Eles conversavam como se fossem conhecidos há anos e como se o relacionamento com a Luma durasse uma vida.

- Você é estranho, muito estranho. – Luma disse enquanto pegava as muletas e ia para o seu lugar favorito na casa, a rede que fica na varanda.

[...]

- Como você se vê daqui a dez anos? – Antônio perguntou enquanto a rede balançava com os jovens acomodados ali.

- Não sei ainda. – Luma respondeu mexendo nos pés de Antônio que estavam ao lado de seu corpo e ela com seus pés apoiados nos ombros dele. Parece estranho narrar, mas quando está ali, é a posição mais certa em ficar quando está deitado numa rede. – Provavelmente trabalhando pro seu pai.

- O velho Miura está realizando o sonho dele. - Antônio comentou quando deu mais um impulso na rede para balançar mais. – Acho que vou gostar de estar perto de você.

- E você, como se vê daqui a dez anos? – Luma lembrou de quando perguntou à Antônio sobre sua aposentadoria dos ringues. Ele disse, na época, pouco mais de um mês atrás, que não pensava no futuro. Estava ansiosa pela resposta dele.

- Eu me vejo ligado a patinação, de alguma forma. – Ele sorriu. Também lembrou do dia quando foi questionado sobre a aposentadoria. Queria perguntar à Luma, quando foi que tudo mudou. Quando foi que a amizade de semanas na faculdade se tornou uma necessidade, boa, de estar ao lado de uma garota que nem era japonesa. Talvez, se Luma não tivesse sofrido o acidente anos antes e ido antes para a faculdade, Antônio nunca a encontraria. Talvez, é assim que as coisas devem acontecer. Talvez, depois da tempestade, realmente vem a calmaria.

JET LAG [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora