CAPÍTULO 2

524 40 12
                                    

Novembro, 2017

Fukuoka, Japão

"Quando se vê, já é natal...

Quando se vê, já terminou o ano..." – O tempo, Mario Quintana.

- Luma, você demorou demais para atender. – Bianca estava com voz de sono, cabelos presos e um robe amarrado pela cintura enquanto a filha preparava seus materiais para ir a aula.

- Mãe, são cinco e quarenta aqui. – Luma coçou os olhos. – Eu sei que você deve ter chegado agorinha de um plantão, mas eu acabei de acordar. – A mãe da menina sorriu. Lembrou, então, que tudo estava se encaixando. O processo de reabilitação de Luma durou o tempo esperado e quando a jovem estava bem o suficiente para poder se virar sozinha, a aplicação para o curso de designer foi feita novamente.

Quando pegou o formulário, a velha Yoko sorriu ao ver a jovem menina acidentada havia melhorado. Associou a informação ao formulário que estava em suas mãos para enviar ao conselho de avaliação. Quando chegou, olhou para o senhor Nakamoto e informou que aquele, era da jovem brasileira que não pôde estar no ano letivo de 2010. O senhor sorriu e não olhou direito o formulário. Apenas conferiu o nome de Luiza Mariana Carvalho Furukawa onde deveria estar escrito e assinou o formulário aprovando. Ele não precisava lembrar da história que Yoko lhe contara para dar aquela nova chance para a menina, mesmo que fosse mais de três anos depois da primeira aplicação. Ele estava feliz, veria mais um aluno prodígio sair dos muros da Universidade de Kyushu.

O ano de 2013 começou com algumas melhoras. A primeira delas foi o primeiro passo de muletas que Luma conseguiu dar durante a fisioterapia. Bianca ficara radiante ao ver e filmar a filha andar novamente e enviar para o celular do marido. Esse, ainda no trabalho, ficou com os olhos lacrimejando e quando questionado pelos colegas, foi parabenizado por todos que acompanharam de perto a sua luta com a sua menina. Tudo estava indo bem e Carlos agradecia novamente ao ser divino por essa nova chance.

Luma foi para o Japão no final de 2013. O ano letivo começou em setembro e a menina já conseguia andar, manter uma conversa longa, se concentrar. Os únicos problemas que ainda lhe acompanhavam eram as muletas e os cabelos que não cresciam direito depois das várias cirurgias que tinha feito. Mesmo com uma falha, pequena, no crânio, ainda conseguia cobrir uma parte com os cabelos curtos e sabia que, naquela estação, usaria várias toucas de lã que a mãe tinha comprado numa loja de roupas especializadas.

Luma estava feliz.

- Eu estou com saudade querida, como que estão indo as coisas por aí? Já arranjou um namorado? – A mãe continuava com aquele assunto. A mais jovem sabia que não era por mal, mas nem a mãe sabia de seus medos. Antes, era por ser antissocial. Agora, quem iria querer namorar com uma menina que anda com muletas e que os cabelos não crescem normalmente?

- Okāsan, por favor. – Ela chamou a mãe em japonês e recebeu um gemido em reprovação. – Eu não quero um namorado agora, certo?

- Você poderia, pelo menos, beijar alguém Luma! – A mãe soltou o cabelo e deixou que escorresse pelos ombros. – Pega um rapazinho aí na universidade mesmo, seu pai não precisa saber. – Contou como se fosse um segredo.

- O que eu não preciso saber? – Carlos entrou no cômodo com o nó da gravata desfeito e com o rosto cheio de sinais de cansaço. Observou as duas mulheres de sua vida de soslaio e olhou para a que estava estampada na tela do computador. – Você está namorando mocinha?

- Não pai... – Luma passou as mãos pelo rosto cansada, sentiu, com os dedos, uma cicatriz que ficara do acidente. – Olha, vocês estão cansados e daqui a pouco eu tenho que sair.

JET LAG [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora