Sendai, Japão
Janeiro, 2018
"Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio." – O tempo, Mário Quintana
O ringue tinha uma proteção ao redor. Luma estava sentada numa parte da arquibancada que não precisaria ficar de pé para ver todo o circuito. Aos poucos, o som da lâmina tocando o gelo foi ecoando pelos cantos do ringue. Uma música baixa começou a tocar. Parecia que estava tudo programado. Ensaiado e cronometrado. Antônio começou a dançar, patinar conforme a música. Era uma música cantada por uma cantora famosa no Japão. Ela já havia escutado, mas ali, naquele momento, a música tinha outro sentido. Ver a interpretação do patinador fez com que Luma tivesse lágrimas aos olhos. Ele estava dançando apenas com uma blusa preta, uma calça preta e os patins. Não tinha os holofotes comuns daquelas competições. Mas, o Antônio parecia um profissional.
Eram giros, saltos, cruzamento de pernas que Luma não sabia especificar. Antônio estava dominando o ringue. Ali, era como se fosse o oposto. Enquanto nos desenhos Luma dominava, no ringue era Antônio que encantava a todos que estivessem vendo. Quis estar com o celular nas mãos para poder gravar aquela imagem e depois mandar para a mãe. Deixou o aparelho carregando na casa que estavam minutos antes. Luma não sabia se estava espantada ou surpresa. Mas, sabia que Antônio, ali naquele ringue, era muito mais do que um mero estudante.
O fim da música se aproximava e a performance de Antônio também. Ele finalizou com as mãos postas no peito, de joelhos de frente para Luma. Ele sorria. Aquele sorriso que alcançava os olhos e achou engraçado a expressão que a moça fez. Levantou e foi até a borda do ringue, onde ela estava.
- Gostou, Furukawa-san? – Antônio tinha, agora, um olhar zombeteiro.
- Você não me disse que era um profissional. – Luma comentou, ainda espantada com a revelação, mas sorria. – Você compete?
- Você não viu os troféus em minha casa? – Ele disse sentando num degrau abaixo. Tinha a respiração forte, de pessoa que fez uma prática intensa de exercícios. – Desde os seis anos eu vou a competições.
- Você não devia esconder informações de mim Antônio. – Ela sorriu. Não é como se ele escondesse. Ela nunca perguntou. Pensou o rapaz que agora arqueava uma sobrancelha para ela, pareciam ter o mesmo pensamento. – O que mais você é, Antônio?
- Ah, nada demais... – Além de tudo, modesto, concluiu Luma. – Eu só patino por amor. O esporte virou profissão anos mais tarde. Mas, como pode ver, eu vou a faculdade como qualquer outro aluno.
- As competições não começaram ainda? – Ela comentou, estavam no inverno japonês, então, os ringues eram montados nessa época.
- Você realmente é muito distraída quando está fazendo aqueles seus desenhos. – Ele comentou se levantando novamente. – Desde que te conheci, viajei três vezes para competir e pratico sempre em Fukuoka e você nem notou.
- As competições são, provavelmente, em finais de semana e eu não costumo ficar perguntando da vida alheia. – Ela comentou sorrindo. – Não me diga que você é... Yuzu...
- Muito prazer, Furukawa-san, eu sou Yuzuru Hanyu. – Ele sorriu de novo.
[...]
"Yuzuru Hanyu não é um simples patinador artístico. É uma lenda viva da patinação que ainda está em plena ativa. Ele, com apenas vinte e três anos, está em boa forma e já conquistou muitas medalhas, entre elas, as olímpiadas de Sochi, na Rússia em 2014 e a de Pyeongchang, na Coréia do Sul, em 2018. O jovem é sensação por suas apresentações cheias de encanto e simpatia. Está entre os jovens mais influentes do mundo e arrasta milhares de fãs por onde for patinar. Ele mantém os estudos, mas pratica, arduamente, para cada competição. Diz, ainda, que a patinação é o seu primeiro amor e isso, nunca irá mudar. Ele brinca com o ringue, conquista os juízes com sorrisos que alcançam os olhos e, talvez, sejam esses mesmos sorrisos que mostram verdadeiramente quem é esse rapaz que tem um olhar tão puro."
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JET LAG [COMPLETO]
Short StoryA vida da jovem Luiza Mariana muda, drasticamente, depois de um acidente. Lutando para sobreviver e realizar seus sonhos, consegue, aos poucos, se adaptar a nova vida após o acidente que foi um divisor de águas. O que ela não esperava é que, graças...