Capítulo dois

206 24 2
                                    

Quando acordei minha cabeça parecia que ia explodir. Minhas mãos não estavam mais acorrentadas, toquei o topo do meu couro cabeludo e senti o sangue seco e a região dolorida.

Minha garganta estava seca e meu estômago estava vazio. Abri os olhos devagar para me acostumar com a luz fraca que irritava minha visão; olhei em volta e percebi que estava em um tipo de sala no mínimo claustrofóbica, as paredes indicavam que um dia já foram brancas, mas com o tempo a pintura envelheceu dando um aspecto de abandonado e mal cuidado.

A luz piscou e vi a lâmpada, que era segurada por um fio de energia, oscilar fracamente ameaçando apagar.

Olhei ao redor sendo tomado pela confusão e me apoiei no colchonete com cheiro suspeito no qual estava deitado. Além do colchonete encontrei um tipo de saco perto dos meus pés, com as mãos trêmulas eu abri e encontrei quatro garrafas de água, uma muda de roupa, um par de sapatos velhos e uma caixa de fósforos.

Um pouco desesperado eu tomei uma das garrafas em poucos goles me arrependendo um pouco por causa da sensação de estômago pesado. Esperei a sensação passar e peguei a bolsa improvisada amarrando-a no pulso. Caminhei até a porta já bem desgastada e cheia de ferrugem e a forcei.

É claro que estava trancada, óbvio.

Caminhei um pouco hesitante e minha pele pinicou. A roupa que me vestiram era um tipo de uniforme todo cinza, a camisa era um número maior que o meu e a calça também, fazendo com que dobrasse a barra dela. O tecido não parecia ser um que usam para fazer roupas, era áspero e parecia que iria se despedaçar ao toque. Era bem desconfortável e poderia ser facilmente comparado com um saco de batata e para piorar me pinicava dolorosamente. O calçado era preto sem cadarços e nem nada que me deixasse seguro para andar.

Escutei o barulho de tranca do lado externo da porta e me encolhi na parede querendo me fundir e nunca ser encontrado. A porta foi aberta com um rangido alto e um guarda apareceu. Não era o gordo, era um homem alto e forte, seu cabelo era raspado no estilo militar e ele estava com a roupa do exército americano.

- Levante-se. - Me movi dessa vez com muito cuidado.

Ele se aproximou em passos ordenados, como uma marcha, e tirou uma algema do bolso do uniforme.

- Não fale nada e não se mexa se eu não ordenar que o faça. Entendido? - Ele apertou as algemas fazendo com que a dor que havia sentido voltasse, assenti freneticamente e abaixei a minha cabeça olhando para o chão.

Fui levado para fora da sala e desejei nunca ter saído dela. O corredor que atravessamos era assustador. A pintura estava velha e escura, havia várias portas iguais a da minha sala. Todas enferrujadas, como se há séculos ninguém se importasse.

Assustador. Sim, aquele lugar era assustador.

O soldado me levou para uma sala maior, dessa vez ela era limpa. As luzes também eram brancas, comecei a odiar o branco. Lembrava-me a doença, morte.

O soldado tirou as algemas e percebi que havia outra porta, uma muito maior. Parecia ter uns três metros e ser bem resistente. O soldado se aproximou e abriu um painel que estava escondido atrás da parede. Com alguns toques a porta foi aberta dando visão a um corredor imenso e mal iluminado, no entanto ele não parecia ter fim.

- O que você vai fazer? Me matar?

Ele não respondeu. O medo tentava tomar conta da minha mente e eu só queria que tudo não passasse de um sonho ruim.

Me apoiei na parede e fiquei parado tentando não surtar. Meus pensamentos estavam em desordem me deixando com mais medo.

Eu devo ter demorado muito, pois o brutamonte bufou impaciente e agarrou o meu braço me empurrando para a porta. Gritei para que me soltasse e me deixasse ir, mas fui calado com a sua outra mão livre que pegou meu pescoço.

Ele apertou e fiquei sem ar, cada vez mais me aproximava da porta. Fui empurrado caindo de bruços. Olhei para trás e antes que pudesse tentar fugir a porta foi fechada me deixando no escuro.

Sozinho.

A única coisa que ouvia era a minha respiração e o meu coração martelando no meu peito. Tateei o chão de pedra procurando apoio e apertei a mochila em meu peito.

Minhas pernas tremiam incessantemente, em passos lentos eu caminhei pelo corredor sentindo meu coração falhar uma batida toda vez que dava um passo e percebia que a luz estava ficando mais fraca; foi assim até que mergulhei no breu.

Ás cegas tentei encontrar a caixinha que vi momentos antes. Estava quase entrando em desespero quando meus dedos tocaram no que procurava. No fundo encontrei a caixinha quadrada.

- Graças a Deus. - Eram os fósforos.

Consegui acender um e vi o quanto estava tremendo. Iluminei a caixinha e vi que não me restavam muitos.

- Seis, preciso economizar. - murmurei.

Amarrei o saco de roupas e comecei a caminhada. O fósforo não iluminava muita coisa, mas era o suficiente para ver que eu estava em mais um corredor.

Senti o calor das chamas esquentarem as pontas dos meus dedos. Lá se foi o primeiro fósforo.

Acendi mais um, agora andando mais rápido. Parecia não ter fim, quanto mais andava mais longo parecia. Me assustava com meus próprios passos e comecei a ouvir barulhos desconhecidos, com certeza criação da minha mente assustada.

Parei quando saí do corredor e entrei em um tipo de gruta.

- Mas o que diabos-

Encontrei quatro entradas, na verdade era rodeado de entrada. Dos dois lados da que estava haviam mais cinco, e contei mais outras cinco na minha frente. No entanto, a maioria estava fechada com pedaços de madeira e arame restando apenas três logo na minha frente.

Fiquei parado por muito tempo. Apavorado. Até que o fósforo estivesse queimando meus dedos.

Acendi mais um e tentei decidir o que fazer. Eu poderia voltar e encontrar aquela porta trancada. Ou poderia ir na sorte e entrar em uma dessas que encontrei. Mas qual?

Espera... É isso!

Quando meu pai não era um bêbado, ele passava muito tempo comigo, seu passatempo favorito era cavalgar; nós passávamos hora e mais horas em meio aos cavalos selvagens. Mas montá-los não era a minha parte favorita, mas sim ouvir a chegada da cavalaria. Os belos Mustangs trotando com toda a sua beleza. Meu pai e eu ficávamos deitados no chão com as orelhas coladas no solo esperando o momento em que os sons dos trotes se propagassem. Parece algo inútil, mas ele e eu passávamos o dia inteiro deitados no chão de terra escutando os barulhos para então correr até os cavalos.

Acho que isso serve para encontrar o caminho. Pelo menos eu acho que sim.

Ajoelhei e acendi mais um fósforo, eu estava ficando sem, tinha que ser rápido. Eu estava bem no centro da gruta, encostei minha orelha no chão e fechei os olhos me concentrando.

Ainda agachado no chão fui me aproximando de cada entrada, não sei quanto tempo fiquei assim, mas em uma delas escutei vibrações.

Levantei minha cabeça e olhei para a entrada, deve ser essa; tem que ser essa. Já usei quantos fósforos? Quatro? Agora é tudo ou nada.

Então a atravessei, dessa vez com passos cautelosos. Andei pelo o que pareceram horas, estava no último fósforo; então ele se apagou.

- Merda. Não, não, não. - Toquei na caixinha e me desesperei quando percebi que estava sem.

Respirei tentando controlar meu desespero. Tateei a parede de pedra e caminhei lentamente tomando cuidado para que não caísse. Senti embaixo dos meus pés o chão se inclinar à medida que andava mais.

Eu estava descendo.

Continuei descendo mais e mais. Se lá na superfície o calor já era alto, aqui era insuportável. Eu estava suando muito e o meu cabelo estava pingando.

O chão parou de se inclinar e vi uma luz. Apertei os olhos para ver melhor e vi que era uma saída.

Andei mais rápido e a atravessei.

Quase chorei quando minha mente raciocinou tudo o que estava na minha frente.

Não era uma saída.

▪▪▪▪

Aprisionado (Reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora