Carta - II

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Esse lugar cheira a mofo.

Já não sei há quanto tempo estou aqui, talvez tenha sido apenas algumas horas ou talvez muito dias. Mas sei que estou prestes a enlouquecer.

Desde que me jogaram nesse buraco eu evito falar com alguém e até mesmo olhar para alguém. Receio que eles possam ver a culpa que carrego e a razão de estarem presos em Mors.

Quando me chutaram até aqui os desgraçados me deixaram ficar com a minha mochila. Agora escrevo no meu livro velho e com uma maldita caneta barata, por sorte tenho muitas outras guardadas, talvez até use uma delas para cravar em meu pescoço e me tirar desse sofrimento.

Mas ainda sou covarde o suficiente para temer a morte.

E infelizmente também não tenho coragem para pedir para que alguém me mate. No fim, eu mereço estar aqui.

Eu fico sentado no meu canto, sempre de olhos baixos, mas muito atentos ao movimento. Vejo homens andando de lá pra cá, ainda são poucos, mas sei que os filhos da puta engravatados pretendem aumentar esse número.

Pretendem tirar o peso que lixos como nós representam para o seu bolso.

Se ao menos eles percebessem que eles são o peso, até piores do que os que compartilham espaço comigo aqui. Mas é claro que eles fecham os olhos quando é sobre a própria bunda, mas os arregalam quando é sobre aqueles que não podem se defender.

Isso soou como se eu estivesse defendendo os caras que estão aqui; talvez eu esteja. A loucura deve estar chegando.

Mas, mãe, não são apenas aqueles que fizeram uma chacina ou que roubaram um banco que estão aqui. Eu vi uma criança. Eles colocaram uma criança aqui! Claro que fui curioso o suficiente para perguntar o motivo de ter sido jogado aqui.

Sabe o que ele respondeu? Ele furtou um pão. A porra de um pão!

Depois disso eu voltei para o meu lugar e o deixei, mal consigo cuidar de mim mesmo e estariam fazendo um favor a ele se o matassem.

Mas fiquei com um pensamento que vem corroendo o meu cérebro e me tirando o sono. Será que assim como aquele garoto, outros inocentes serão jogados aqui?

Aprisionado (Reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora