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Estava em um beco. Não. Era aquele beco.

Olhou para a sua frente e tinha o grande muro de cimento que o impedia de correr. Olhou para trás e o mesmo muro estava alí, lhe prendendo ao seu raciocínio, ou a falta dele.

Ouviu um ruído estranho ao seu lado, parecia um golpe sendo acertado em alguém.

Droga.

De novo não...

Olhou na direção do som e não tinha nada.

E então de novo. Dessa vez do outro lado. Outro golpe e outro murmúrio de dor.

Nada.

E então os sons começaram a se tornarem gradativamente mais altos, logo se misturando a gritos e lamúrias dizendo para que fugisse, para que saísse dalí, para que corresse o mais rápido possível e se salvasse daquele atentado a sua sanidade.

Ainda mais. Os gritos aumentaram ainda mais. Não se lembrava de serem tão altos assim quando aconteceu.

Levou as mãos aos ouvidos começando a sentir dor nos tímpanos, prestes a explodir, mas nunca acontecendo.

Uma dor alucinante, que parecia não estar alí, fazia sua cabeça latejar e um peso em suas costas lhe tirava as forças aos poucos, o fazia se curvar, gemer, fechar os olhos com força implorando para que parasse, mas não parava.

E então voltaram a ser ruídos.

Completamente assustado e sentido o ar ao seu redor cada vez mais escasso, afastou lentamente as mãos dos ouvidos ao sentir algo molhar os dedos compridos.

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Acordou assustado. De novo tinha sonhado com aquelas coisas horríveis. Mais uma vez. E sabia que não seria a última.

Mas tinha algo, algo que sempre acontecia, desde aquela época. Que nem em seu sonho, não conseguia respirar.

Puxou o ar com força olhando com as orbes arregaladas fitando as próprias mãos. Nada. Tentou de novo. Nada. Mais uma vez. Nada.

Parecia que seus ouvidos estavam dispersos e não se focavam em nada ao seu redor, apenas ecos que sua mente não assimilava.

Não sabia o que estava acontecendo até sentir o rosto inundado por lágrimas que nem sabia que tinham caído.

Ataque de pânico.

Foi aí que se desesperou de vez.

Estava sozinho. Mais uma vez quando isso acontecia, estava sozinho.

E sentia que ficaria assim para sempre...

><><><


O Park andava impaciente pelos lados de sua sala sem saber o que fazer.

Tinha uma reunião marcada às 9:00 com os Jeon's - Jun Suk, Jungkook e mais alguns que não se importava em lembrar o nome no momento por sua irritação aparente pela situação atual - e já se passavam das 11:00 quando a reunião começou.

Ficaram todos na sala esperando que o Jeon mais novo desce as caras para poder dar início a reunião, e quando finalmente aconteceu, ele disse que teve uma emergência e que não estava em condições de participar das discussões e nem de apresentar os dados estatísticos que estavam em seu conhecimento, fazendo a reunião ser remarcada.

Jimin tomou um gole de água para acalmar as veias que insistiam em saltar pelo excesso de esforço que fazia para manter seu corpo controlado. Sempre foi alguém meio estressadinho, por mais que durante um tempo tivesse se sentido fraco.

Conseguiu pensar direito. Realmente, Jungkook pareceu meio abalado e aéreo naquele momento. Se embolando nas palavras e parecendo estar fora de órbita. Se visse o moreno pelos corredores o mandaria pra casa por não estar em condições de fazer seu trabalho direito.

Tentou dar mais um gole, porém parou na metade do caminho ao perceber a garrafa vazia. Bufou e saiu de sua sala. Pediria para Somi mas realmente precisava de um ar.

Quando chegou à área da cozinha dos funcionários hesitou em passar pela porta ao ver o moreno parado alí, encostado no balcão e com um copo plástico de água na mão, olhando para um ponto fixo qualquer pelo chão com os olhos bem abertos.

Deu duas batidinhas na porta.

- Jungkook? Tudo bem? - O mesmo sentiu o coração disparar tanto pelo susto, quanto por ter reconhecido aquela voz, não demorou nem um segundo para sair de seus pensamentos.

- Uh? O que, hyung? Está tudo bem. - Assentiu após arrumar a postura e olhar para o mais baixo, sem nem reparar a forma de tratamento que usou, já Jimin, sentiu o coração ficar mais quentinho.

- Não parece... - Negou com a cabeça sendo seguido pelo outro.

- Me desculpe pela reunião, foi realmente uma emergência, e acho que ainda estou sentido os efeitos disso... - Parou pela mente confusa e embaralhada, olhando para algo na parede meio confuso, tentando organizar os pensamentos, parecia até que estava bêbado.

- Sei... - Andou um pouco e se encostou no balcão ao lado do outro, parando ao seu lado e de braços cruzados. - Quer conversar?

Nem sabia por que havia dito isso, mas sabia como era não se sentir bem com algo e não ter ninguém pra conversar, e como seu donsaeng - já que aparentemente tinham intimidade pra isso, segundo o Jeon - estava estranho, por que não tentar?!

Passado é passado.

Jungkook suspirou.

- Hum, não é nada demais, Jimin, apenas... - Parou, novamente confuso. - Não é nada. - Deu um meio sorriso que dava até para desconhecidos no meio da rua, apenas porque não conseguia pensar naquele momento, um dos motivos sendo o seu hyung.

- Eu acho que você devia ir pra casa, descansar, não parece em condições de trabalhar nesse momento... - Pôs a mão em seu ombro e Jungkook achou que fosse morrer ou que fosse ter o segundo ataque de pânico do dia. - Descanse, Jungkook. - Deu um sorriso pequeno que o mais novo achou lindo, Jimin era lindo.

- O-Okay, hyung, você tem razão... - Assentiu e respirou fundo sentindo um cheiro bom que nunca tinha reparado antes.

- Ótimo. Quando se sentir melhor volte, é para o seu bem. - O olhou, atento.

Os olhos de Jungkook pareceram brilhar com aquela afirmação, pro seu bem, era pro seu bem.

Jungkook ofegou baixo.

- Obrigado, Jimin-hyung, eu já estou indo pra casa... - Assentiu tentando sair dalí rápido porém não de um jeito que entregasse seu nervosismo.

- Chame um táxi, não é bom dirigir assim. - Praticamente o ameaçou com o olhar.

Jungkook parou.

- Certo. E... Hyung? - Tentou e Jimin o olhou. Não passou despercebido a coloração rosada em suas bochechas. Céus, devia estar realmente mal! Cara, chame um médico...

- Sim?

- O seu cheiro é muito bom! - Falou logo saindo quase correndo dalí pela vergonha e as bochechas coradas, deixando um Jimin de sobrancelhas arqueadas pra trás, olhando para onde o homem acabara de sair.

Não controlou o riso curto que saiu de si junto a um sorriso pequeno.

Married To The Devil - JiKook Onde histórias criam vida. Descubra agora