Capítulo 17

97 51 41
                                    

Se você gostar desse capítulo, não esqueça de deixar um voto :)
Boa leitura!

* *

Seus movimentos foram lentos e gentis. Ele parecia acreditar em meu teatro e tentar fazer o menor barulho possível. Quando eu senti que Oliver tinha deixado o meu quarto, abri os meus olhos e segurei o riso. O que ele queria? Deveria eu ter forçado meus cílios a irem em caminhos contrários e ter encarado seu corpo?

   Talvez ele estivesse seminu a minha espera. Talvez ele quisesse me tomar naquela noite. E sim, meu Deus, eu aceitaria.

   Percebi que algo estava diferente no meu quarto. Acendi a luz do abajur e encontrei um livro apoiado em meu criado-mudo. Era o mesmo da biblioteca, o que achei em seu escritório minutos antes dele tomar parte do meu corpo para si.

   Mas para que deixar ali para mim?

   Parecia um presente. Uma oferta de paz, talvez. Era como se Oliver quisesse me mandar um recado: sim, eu estou aqui e quero que você saiba mais.

   Eu logo perdi o sono e decidi finalmente explorar as páginas amareladas daquele livro. Naquela noite, passando meus dedos pela capa dura e observando os brasões das famílias mais poderosas daquela cidade, eu tiraria todas as minhas dúvidas, ou apenas criaria outras em minha cabeça.

   Quando encontrei a página que eu estava procurando, também encontrei uma foto antiga que parecia ter sido deixada ali de propósito.

   A foto era em preto e branco, possuía algumas manchas que indicavam sua antiguidade. Um casal estava de pé, com as mãos entrelaçadas, enquanto duas crianças estavam sentadas no chão e, sem encarar a câmera, brincavam.

   As crianças pareciam ter entre sete a dez anos e uma delas eu reconheceria em qualquer lugar. Os traços de Oliver estavam marcados em minha mente e nunca, nunca, deixariam ela em paz. Ao lado dele estava uma garota que parecia ser mais velha, tinha traços parecidos com os dele, mas cabelos claros como a suposta mãe.

   No verso da foto, havia uma linha d'água marcada com o brasão da família Madraga e as seguintes palavras escritas: Verba Volant, Scripta Manent.

* *

   A família Madraga é de origem espanhola, uma linhagem muito antiga de nobres cavaleiros. Os historiadores possuem poucas informações sobre eles, apenas alguns documentos do século XVII e de como eles chegaram às Américas e lucraram com o ciclo da cana de açúcar.

   No livro, o que mais chamava a atenção era a contribuição dos Madraga para o início da cidade. Eles estavam presentes em todos os séculos que se passaram e em nenhum momento deixaram de existir. A prova disso era o brasão estampado nas costas do Oliver.

   Eu fiquei frustrada ao perceber que aquele livro, que eu arrisquei minha vida por, não me forneceria mais informações que essas. Isso não explicava as armas, os negócios ilegais, a dona Ruth ou os homens que faziam acordos com o Oliver. Sendo assim, eu guardei a foto da família em uma das gavetas do criado-mudo, para posteriores investigações, e decidi devolver o livro.

   Essa seria minha oferta de paz, mostrando que talvez pudéssemos ter uma boa relação. Ou essa seria apenas eu, curiosa para saber quem ele teria trazido para a casa.

   Quando entrei na sala, observei o cenário e percebi que, mesmo em outras circunstâncias, eu já tinha vivido aquele momento. Oliver estava acomodado no tapete branco e em completo silêncio, foi uma espécie de Déjà vu para a minha mente. Ele parecia prestar muita atenção ao barulho que o fogo fazia na lareira enquanto queimava a madeira. Eu compreendi, também gostava de observar esses pequenos detalhes, como o seu rosto e a paz que transmitia naquele instante.

Tornar-se Janeiro (em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora