Capítulo 14

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* *

É incrível como um beijo pode mudar a perspectiva das coisas - ou apenas aumentar todas as paranóias na sua cabeça.

Acordar foi algo que eu não quis fazer. Já era de noite e percebi que eu tinha perdido um dia inteiro dormindo. Mas eu merecia. A Janeiro merecia descanso entre tantos acontecimentos e eu respeitaria isso. Afinal, eram em sonhos que eu encontrava paz e eu dormiria pra o resto da vida se eu pudesse.

   Um calafrio percorreu o meu corpo.

   Eu realmente cheguei a querer a morte, quando estive entre a falta de ar e o anseio por oxigênio. Eu jamais esqueceria daquela madrugada na delegacia, mas eu precisava trancar a memória em algum lugar da minha mente.

   Além disso, eu tinha problemas maiores para lidar. Como um homem alto de olhos verdes que colocou seus lábios nos meus.

   O surto foi real. Eu não acredito que dei tantas voltas pela vida para acabar ali, naquela situação. Sei que muitos acreditam em destino e nas forças do universo e, sim, parte de mim também acredita, mas a outra parte almejava mais do que ser destinada ao fracasso. E era assim que eu estava me sentindo: fracassada.

   Sinto que fracassei desde que nasci. Fracassei ao perder meus pais biológicos, fracassei em todas as casas que estive e ao tentar fugir dos problemas da última. O fracasso me perseguiria até o fim. O fracasso chegou até a Janeiro, essa mulher forte que eu criei.

   Talvez ela seja o meu alter ego, e não Oliver. Talvez eu tenha criado a Janeiro na minha cabeça e com ela todos os detalhes: a cidade; a pensão; o Bar 21; a biblioteca; a família Madraga e ele.

   Apesar desses pensamentos, acordar na cama do meu quarto na casa de Oliver, era prova concreta de que minha mente não conseguiria ir tão longe assim. Por mais que eu desejasse estar alucinando.

   Decidi levantar, mesmo com os lençóis insistindo em costurar seus tecidos em minha pele. A vida seguiria e eventualmente eu estaria em outro lugar, longe dali. Mas que lugar seria esse?

   Talvez estivesse na hora de eu assumir que nunca terei um lugar para ir, não enquanto eu não for o meu próprio lar.

   "Boa noite, dona Ruth" - eu falei, adentrando a cozinha e pegando uma maçã no balcão.

   Eram por volta das sete horas da noite e tudo parecia um borrão. Eu queria voltar dormir. Ou melhor, eu queria ignorar os habitantes daquela casa. Eu precisava.

Oliver estava sentado à mesa, comendo o seu jantar e tentando fazer contato com os meus olhos. Ele parecia confuso, mas eu o ignorei. Seria o melhor a fazer. E dessa vez eu faria.

   Sentei no banco em frente ao balcão e resolvi fazer companhia a dona Ruth. Ela me contava alguma história de como descobriu a receita de uma torta, quando Oliver levantou-se e ficou atrás de mim.

   Sua mão tocou o meu ombro em um gesto gentil e íntimo demais. Ele desejava algo. Respostas, talvez.

   "Tia, a senhora poderia deixar a Janeiro e eu a sós?" - ele disse.

Tia?

   "Claro, querido." - dona Ruth e seus olhos verdes, iguais aos de seu sobrinho Oliver, o que explicava muita coisa, retiraram-se do ambiente. No entanto, não fiz perguntas sobre ela, não era meu problema. Eu não me importaria dessa vez.

   Ele moveu o meu corpo para trás, fazendo com que o seu ficasse entre minhas pernas, que se abriram na sua presença e tremeram com o contato.

Tornar-se Janeiro (em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora