Capítulo 19

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Você não acha que a tempestade vai chegar até sentir a primeira gota de chuva atingindo a sua pele e queimando.

O silêncio daquela casa vazia deu espaço para o barulho dentro da minha mente. As memórias de uma noite de amor passaram a ser memórias de uma possível perda também.
A perda de algo que eu nunca realmente tive.

Mas a clareza chega e com ela a revolução também chegaria.

Dezenove horas e trinta minutos.

Chequei o meu reflexo no espelho por uma última vez e respirei fundo. Algumas horas antes a Mandy havia passado na casa e me entregado a minha vestimenta para a reinauguração do Bar 21. Ela parecia estar animada com as renovações do local, principalmente com o seu aumento de salário.

Em alguns momentos, como quando ela me observava ajeitando a roupa, eu quis implorar por sua ajuda, mas acho que ninguém saberia como me ajudar. Eu gostava muito da Mandy. Desde os seus cabelos até a sua empatia e história de vida. Porém, mesmo com a possibilidade de existir um laço entre nós, eu ainda me lembrava do livro e dos meus gritos internos de não confie em ninguém, Janeiro.

Eu estava sozinha e, droga, tudo que eu queria era ele. Eu queria que Oliver entrasse no meu quarto e me desse sua mão, me contasse que eu não sou seu objeto e que ele nunca mais me trataria como um.

Eu queria que ele me beijasse e provasse o quanto poderíamos ser dois inconstantes juntos. O quanto ele poderia respeitar o meu espaço e eu o dele. Eu retribuiria os seus toques e deixaria claro o quanto eu considerava ficar ao seu lado, mesmo sabendo o que fazia para enriquecer. Entretanto, eu faria isso sob uma única condição: eu precisava saber quem ele realmente era.

Então, antes de pedir meu táxi, fiz uma reza improvisada e de pouca fé, no entanto, muita vontade. A vontade de que tudo desse certo naquela festa e que Oliver ficasse satisfeito com o meu trabalho. Não pedi por amor ou por seu toque novamente, apenas pedi para que o universo cortasse as linhas vermelhas que costuravam meu coração ao dele.

Eu precisava mostrá-lo quem eu era e sempre fui sem homem algum. O difícil seria explicar para mim aquela situação, sendo que eu estava vivendo debaixo do teto do Oliver e usando um nome esquisito como referência para aquele pedaço de carne que caminhava pela cidade.

Os olhares estavam todos sob o Oliver quando eu adentrei o Bar 21. O lugar estava mais chique do que eu esperaria de um bar localizado no meio de uma estrada. As mesas de pôquer já estavam ocupadas pelo público-alvo do Oliver e ele estava no canto, parado perto da escada que levava diretamente para seu novo escritório.

É claro que Oliver não passaria muito tempo no Bar 21, por isso precisaria de mim para cuidar de um lugar que ele não considerava à sua altura. Ele provavelmente passaria o seu tempo naquela mansão, onde homens importantes apostavam milhões e compravam suas armas como se fossem doces.

Não vi muito desses rostos milionários por ali, obviamente. Porém, ao lado de Oliver estavam dois homens que pareciam considerar ele importante o suficiente para não reclamarem em estar em um bar cheio de plebeus.

Entrei no ambiente desviando dos garçons e tentando achar um lugar para respirar. Eu precisava organizar os meus pensamentos e processar as consequências de quando Oliver percebesse que eu o desobedeci, que eu não era seu brinquedo, que eu seria mais, ou menos em sua visão. Que eu não me importaria com o que ele pensava, não daquela vez.

Seus olhos verdes eventualmente me encontraram no salão e se arregalaram. Eu me pergunto até hoje se ele estava realmente surpreso com o fato de eu estar usando o uniforme dos garçons, ou seja, trabalhando naquela noite. Oliver parecia me conhecer muito bem para saber da minha teimosia, mas ele ainda precisava aprender a não testá-la.

Tornar-se Janeiro (em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora