Capítulo 27

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   É o meu corpo e agora ele detesta parte de você. É o meu corpo, o mesmo que te clama, que agora se afasta em receio. É o meu corpo que respira com dificuldade e só descansará se for ao teu lado.

   É o meu corpo e confesso que eu estava tentando odiar o Oliver.

   Eu preciso entender que às vezes nunca irei completamente entender as coisas, no entanto, eu não sei se está tudo bem.

   Eu não sei se consigo aceitar que parte de mim sempre será controlada por seus olhos verdes e por tudo que vivemos, mesmo em pouco tempo - meses que pareciam anos.

   Então, olhando pela janela de um local longe dele, eu via o verão chegando e ouvia os pássaros cantando. O sol explodia lá fora e dentro de mim o inverno não havia deixado de existir. No fundo, eu chorava até mesmo pelo fato de não poder realmente chorar ou demonstrar qualquer fraqueza. Porque só com ele eu conseguia fazer isso.

   Oliver, só contigo eu poderia ser eu mesma e não saber o que isso significava.

   Volto a fazer as mesmas perguntas que me assombram até os dias recentes: o que éramos? o que seríamos? foi real?

   Mandy ainda encarava meus olhos esperando uma reação que não chegaria tão cedo ao ambiente. Não era possível.

   Não estávamos falando do mesmo homem, do mesmo toque ou da mesma gentileza. Não era possível que a Helena Madraga, a mulher que eu estive impersonando na frente do seu tio, estava comigo o tempo todo, desde que cheguei naquela cidade.

   Não era possível que o Oliver, o homem que eu estava apaixonada, era parte daquilo. Não era possível que ele era uma pessoa ruim e capaz de fazer todas aquelas atrocidades. Não o meu Oliver.

Não, não e não.

   Oliver não faria isso. Oliver não causaria a morte dos pais ou a fuga da irmã. Ele não torturaria o tio e enganaria a própria tia. Ele não obrigaria o melhor amigo a trabalhar para ele e ter que esconder a noiva com vida.

   Ele não me deixaria chegar no momento em que eu teria que decidir em quem eu acreditaria. Ele não tocaria o meu corpo com as mesmas mãos que usou para derramar o sangue daqueles que ele disse amar. Ele não faria isso comigo, com eles, com nós. Aquilo não poderia ser verdade.

   Ele não me obrigaria a chegar nesse ponto. O ponto em que eu poderia dizer que todas as pessoas que amei realmente não eram boas, mesmo que esse fosse um conceito diferente na minha cabeça. Mesmo que bondade pudesse ser apenas me amar de volta. Mas, se ele fosse realmente esse monstro, que amor é esse que resiste a frieza do homem que vive em volta do próprio coração?

   "Precisamos de você, Janeiro" - a Mandy, ou Helena, disse - "Quando observamos a aproximação de vocês dois, achamos que ele iria te descartar na primeira oportunidade"

   "Bom, sabíamos que ele ia gostar de você, do seu jeito perdido e inocente" - ela continuou - "Principalmente depois do sequestro, quando ele garantiu que você era exatamente isso"

   "Mas... você."

"Não, ele não me reconheceria depois de tantos anos. Além disso, existem centenas de loiras dos olhos verdes por ai e a última que ele quer recordar é a irmã que ele acha que matou".

"Enfim, isso não importa. O Alexandre me protege e isso basta. Agora, o que importa é que você tem que voltar para a casa e pedir perdão, implorar para ele te aceitar de volta"

   "O que?" - ela estava louca, só poderia ser isso.

   "Você terá que confiar em mim, ok?" - ela indagou - "Estamos muito perto de prendê-lo, mas não podemos fazer isso chamando a atenção dos homens que o protegem"

Tornar-se Janeiro (em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora