Quando você sabe que está apaixonado por alguém?
No momento em que o cheiro de vocês dois fazendo amor invade suas narinas, talvez.
E também ao sentir aquele medo que funciona como ácido para o estômago. O medo de estragar o instante, perder os braços que entrelaçam o seu corpo e ter que assistir o seu mundo todo ir embora.
Por que a ansiedade da possível ida é a pior coisa. É aquilo que me prendeu ao chão da sala, ao tapete branco, a parede laranja. É aquilo que chorou por dentro quando o laço foi quebrado e caminhamos até a cama. A nossa cama, onde fizemos amor de novo, e de novo, até o momento em que nossos corpos e nossos corações fossem um só e estivessem satisfeitos.
A manhã seguinte foi uma das únicas em que o ato de acordar significou alívio. Eu não precisava me prender a um sonho e a todas as expectativas que minhas paranóias criaram. Eu estava ali, era real.
O sol invadia o quarto através da abertura que dava acesso à varanda. Os móveis de madeira que preenchiam o seu quarto estavam brilhando, assim como o sorriso que eu tentava esconder em meu rosto.
"Você irá retornar para esse momento, J?" - o Oliver disse, enquanto acomodávamos os nossos corpos exaustos na cama.
"Sempre, Oliver." - eu sorri, deitando minha cabeça no seu peito nu.
"Sempre." - ele repetiu.
O que seríamos? Como ele me trataria ao acordar?
Levantei da cama na forma mais silenciosa possível e caminhei até o banheiro da suíte. Mesmo não querendo abandonar o cheiro do Oliver e a camiseta dele que eu estava vestindo, decidi tomar um banho.
Eu havia passado a noite com alguém.
Não qualquer alguém, com o Oliver. E agora eu estava no quarto dele, dividindo a cama com ele, dividindo meu corpo, pertencendo a ele, assim como ele a mim.
"Seja minha", ele disse. E eu fui.
Mesmo que nada mais aconteça entre nós, eu agradeço por seu jeito. Agradeço por suas mãos delicadas e seus gestos afetuosos. Agradeço por me perguntar se eu estava bem durante o processo e também pelo quão bem eu estava. Muito bem.
Ainda me questiono se foi tudo um sonho. Como eu já disse, não costumo acreditar que essas coisas podem acontecer comigo. Eu sei, parece bobagem.
Parece que sou um clichê adolescente contando a respeito da sua primeira vez, mas eu já disse que não sou. Eu só escrevo isso por que aquela noite nunca sairá de mim, principalmente se eu a colocar no papel. Ela nunca voará.
Terminei o meu banho e, não querendo deixar o quarto, escovei os dentes com o meu próprio dedo. Qualquer situação era melhor que o Oliver me encontrar com o temido cheiro matinal na boca. Pelo menos eu estaria segura.
Oliver entrou no banheiro sem bater na porta, o que dessa vez não me incomodou, e espreguiçou-se, deixando o seu corpo mais definido pelo movimento.
Porra, ele era lindo.
"Janeiro?" - ele sorriu e apontou para a região inferior do seu corpo - "Perdeu alguma coisa por aqui?"
Eu senti minhas bochechas queimarem.
"Bom dia, Oliver" - eu disse, abaixando a minha cabeça.
Ele se aproximou e colocou o meu corpo na pia do banheiro. Passou seus braços por minha cintura e deu pequenos beijos no meu pescoço. Suas mãos só me largaram para alcançar a sua escova de dentes, demostrando estar com as mesmas preocupações que eu.
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Tornar-se Janeiro (em pausa)
RomansaRecomeços sempre foram complicados para mim. Geralmente eles são consequências de dois possíveis cenários: algo bom aconteceu ou algo ruim, e nesse último caso, você precisa fugir. De uma forma ou de outra, fugir sempre foi o que eu fiz. Então foi p...