Acordei em minha cama, sem saber como eu teria chegado até ali. Olhei o meu corpo por baixo dos lençóis e agradeci por ainda estar de camisola. Também não encontrei vestígios de um outro corpo, aquele corpo. Respirei aliviada e comecei a navegar pelas memórias da noite passada.
Oliver havia me proporcionado um prazer que minhas mãos nunca conseguiriam alcançar e eu, nem nos meus sonhos mais eróticos, teria imaginado aquela situação.
Recordo que Oliver levantou-se e me encarou com os olhos cheios de luxúria e desejo, mas não prosseguiu. Apenas entrou em seu banheiro e, antes que eu pudesse sair do quarto, escutei o barulho do seu chuveiro. Por que ele não quis algo mais?
Entre todos esses pensamentos, também agradeci por ele não ter investido. Talvez ele tenha percebido que eu era virgem. Talvez ele não me quisesse mais por causa disso.
O problema de lembrar da noite passada, foi lembrar também dos motivos que me fizeram visitar o seu quarto. Oliver era perigoso demais para eu achar que poderia me envolver dessa forma. Ele estava me arrastando por um joguinho sádico de desejo. Eu não seria sua Bonnie e ele não seria o meu Clyde, essas coisas existiam apenas em filmes e neles deveriam permanecer.
"Você não tenha ideia do quanto eu te quero, agora." - aquelas palavras ecoaram na minha mente.
Aquilo era a vida real. Ele não me amava e um orgasmo não mudaria esse meu pensamento ou me faria admirar suas ações criminosas. Se ele não queria se explicar, tudo bem, é compreensível. Mas ele não poderia me prender ali para sempre, certo?
Mesmo não querendo, eu levantei da cama e decidi prosseguir com o meu dia. Após escovar meus dentes, fui para cozinha e notei a ausência de um café da manhã e de uma senhora muito simpática. Acabei seguindo sem questionar, como sempre faço.
Coei o meu café e segui para varanda, onde eu teria um pouco de paz e silêncio. Aquela manhã estava fria, então eu me cobri com uma manta e sentei na rede, observando as árvores ao redor e agradecendo por aquela visão tão bonita que a natureza me proporcionava.
Eu soube que Oliver estava no ambiente só por sua respiração.
Logo após notar sua presença, encostada na saída do seu quarto, do outro lado da varanda, eu escutei o barulho de isqueiro e em seguida o cheiro da fumaça do seu cigarro encontrou minhas narinas.
Ele não disse nada, aproximou-se e sentou ao meu lado na rede, empurrando o meu corpo com o dele e me fazendo querer rir. Ali estávamos: um se equilibrando no outro, ambos em um silêncio pertubador.
Oliver, Oliver, Oliver.
Como eu fui conhecer um homem assim?
Um homem capaz de ser tão doce e tão rude ao mesmo tempo. Um homem que me provocava arrepios bons e ruins, me fazia questionar sua conduta e ao mesmo tempo querer consertar os seus erros. Um homem que me tocava como eu nunca fui tocada e provavelmente nunca mais seria. Um homem que poderia me matar com um golpe e, por esse e outros motivos, me fazia querer ir embora.
Ainda assim, com todos os contras de ficar ali, eu queria permanecer em sua vida e eu sentia que iria enlouquecer sem o cheiro de sua colônia misturada com seus cigarros mentolados. Eu sentia que iria enlouquecer sem aquela sensação de estar em casa.
Aquela sensação de que ele sempre estaria ali para dividir uma rede comigo em nosso ponto de paz, onde não existiriam os negócios ilegais ou suas palavras maldosas, onde não existiria o meu passado atormentador ou as sequelas dele, onde apenas existiria essa conexão de uma garota com nome de mês e um homem que poderia ter a companhia de todas, mas ainda assim escolhera estar ali: naquela rede.
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Tornar-se Janeiro (em pausa)
RomansaRecomeços sempre foram complicados para mim. Geralmente eles são consequências de dois possíveis cenários: algo bom aconteceu ou algo ruim, e nesse último caso, você precisa fugir. De uma forma ou de outra, fugir sempre foi o que eu fiz. Então foi p...