Já caminhavam há horas. Ao olhar para trás, qualquer um veria Porto Lendário, no alto de uma longa colina, pequena como um arbusto, com seus Portões que tocavam os céus. À frente, a terra se transformava em grama, em todas as direções possíveis. Não havia árvores ou plantas em destaque, mas arcos de rocha naturais embelezavam o horizonte. Declives e aclives constituíam o cenário que, à medida que caminhavam, se enriquecia com detalhes mais repetitivos.
Quando rochas imensas se tornaram uma característica mais comum pelo caminho, Porto Lendário já estava oculto pela imensa distância. Logo, no horizonte, eda traria a luz do dia novamente e os três estariam certos de que estavam livres. O que o horizonte reservava, porém, não era tão brilhante.
Após muito andarem, passarem por pequenos castros e castelos de mota abandonados ou inóspitos e depois de pararem em um rio para beberem água, viram homens no horizonte, aos milhares, montados em cavalos e revestidos com suas armaduras, carregando lanças, espadas, estandartes e tantas outras armas.
– O que é aquilo? – Perguntou Yearnan, indicando com o dedo.
– Um exército! – Exclamou Ecco. – Vamos nos esconder.
Abaixaram-se atrás de uma pequena rocha, deitando.
– Quantos são? – Perguntou Nthaír.
– Uns mil? – Ecco arriscou. – Vinte, cinquenta. Eu nunca saberia lhe responder.
– Droga, Ecco. Por que estão aqui? – Indagou Nthaír.
– Eu saberia? Melhor sairmos do caminho deles. Não quero ser esmagado por uma infantaria inteira.
– Melhor ideia da noite. – Concordaram.
Os três se afastaram, agachados, para longe do percurso daqueles homens, ocultando-se atrás de outra rocha ao lado de uma árvore, observando o exército se aproximar lentamente. Os homens seguiam numa marcha lenta, buscando silêncio.
– Vão atacar o Porto Lendário. – Supôs Ecco.
– Ainda bem que não estamos lá. Odiaria morrer dormindo.
– E se estiverem apenas retornando de uma batalha? – Sugeriu Yearnan. – Digo, se forem homens de Porto Lendário?
– Não vou perder meu tempo tentando descobrir. – Ecco rebateu.
Quando o eda surgiu no horizonte, o exército estava longe, e os três amigos mais longe ainda. Aproveitaram a primeira oportunidade possível para deixarem o lugar sem serem vistos. Ecco bocejava.
– Precisamos descansar.
– E comer. – Acrescentou Nthaír. – Estou morrendo de fome.
– Só fala isto porque não mora nas ruas. – Yearnan reclamou.
Um silêncio preencheu a conversa, assim como na maior parte da viagem. Os três não eram tão amigos assim e as coisas começavam a ficar monótonas.
– Que tal ali? – Perguntou Ecco, indicando algumas frondosas árvores, carregada de frutos.
– Perfeito. – Concordou Yearnan.
Os três sentaram-se sobre folhas e grama, estalando alguns gravetos antes de se acomodarem para dormir. Em breve estariam em Go'ov e teriam um teto para dormir se conseguissem mais dinheiro. Nthaír não tinha mais do que vinte e sete alanges.
Ecco pensava nas muitas coisas que poderia fazer em troca de algumas moedas. Pensou também no pai, Avyin e em Dwanthar, ao lado do Capitão Gage. Como ele morreu? Por que nos acusaram de matá-lo?
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O Voador
Fantasy(Sobre)vivendo pelas ruas de uma ilha pouco importante ao norte da grande Tormadelli, Ecco se vê entre o dilema de se tornar um aprendiz na Casa do Voador para seguir os passos de seu saudoso pai, ou fugir para longe dos domínios dos érujos. À medid...