XXIV. Ochantgar vs o Desconhecido de Mrasth

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Os dois entraram e perambularam por algum tempo entre os corredores e ambientes do castelo até ouvirem as pessoas gritando, esbravejando e aplaudindo. Depois disso, bastou seguir os sons e logo viram o escopo.

No centro do castelo, separado dos outros domínios, um edifício hexagonal roxo sediava as batalhas que o público adorava organizar para colocar as mais improváveis criaturas em duelos mortais. Ao redor, seis torres gêmeas flanqueavam as arestas do anfiteatro, interligadas entre si por pequenas muralhas, fazendo um papel de defesa dentro do Turquesado.

Subiram uma escada larga que levava direto às arquibancadas. Ao entrarem no anfiteatro, encontraram uma arena abarrotada de pessoas; ersni e balutes em sua maioria, totalizando quase cem mil pessoas. Ao redor, no topo dos muros, mastros emparelhados sustentavam longas tendas que tampavam a luz do eda sobre suas cabeças. Do outro lado do anfiteatro, na direção norte, um portão selava a passagem, grande como No centro, sobre o chão de terra, duas criaturas de quase cinco metros lutavam como ferozes bestas numa selva, esmurrando-se chutando a todas as direções. Ecco logo correu para a beira dos arquibancos.

– Uma luta de icanes! – Exclamou Ecco.

Mesmo impressionado, Ecco já esperava por icanes, como estava escrito na fita que deixara para trás, com a garota. Pensar naquilo trazia de volta o pensamento de que ele não deveria estar ali. Pelo menos, não ainda.

– Faça o que tens que fazer, logo. Esperarei por ti na arquibancada.

Ecco viu Ochantgar se afastar, sumindo entre as gentes. O que eu devo fazer?!

Um estrondo ecoou quando um dos icanes caiu por cima do outro e o público delirou, urrando ou vaiando, batendo palmas ou arremessando lixo.

– Trapaceiro! – Diziam uns.

– Acabe com ele! – Gritavam outros.

Não demorou para que a algazarra concedesse lugar ao silêncio quando, num pódio, o rei ficou de pé. Estava tão longe que Ecco não conseguiu ouvir o que ele dizia ou os gestos que fazia. Apenas o silêncio imperou por agonizantes segundos. Sob a permissão e ordem do rei, o icane que estava de pé ergueu os braços em sinal de vitória.

Ele vai matar o outro, pensou.

Ecco estava certo. O icane rugiu antes de saltar sobre o seu adversário, espancando-o repetidas vezes. As pessoas pararam de aplaudir quando viram o sangue verde escuro que escorria do rosto da criatura, que mais parecia um monstro deformado. O horror se estampava nas milhares de faces que presenciavam aquela terrível carnificina. Para piorar, Ecco ficou mais horrorizado ainda quando, depois que o icane se cansou de bater, todos voltaram a gritar, eufóricos, alegres, trocando seus objetos que perderam ou ganharam em apostas e jogos.

Aquele era um cerne de morte e dinheiro, nada mais. Como era possível que pessoas se divertissem com a morte de uma criatura com sentimentos? Eles conseguiam fingir horror apenas por causa de uma cena.

Indignado, Ecco tentou sair dali, mas a movimentação nas entradas e saídas aumentava nos intervalos entre batalhas e, nesse tipo de situação, o mais ágil prevalece. Tentou procurar outras rotas, mas não obteve sucesso. Dois ersni caminhavam conversando. Ecco prestou atenção no que diziam.

– O Desconhecido vai lutar hoje. – Comentou um deles.

– Se eu estivesse lá, jamais deixaria que ele fosse liberto. – Sugeriu o outro. – Ele lutaria noite e dia até morrer.

– Ouvi dizer que ele não é de Mrasth.

– E de onde seria? – Perguntou.

– Birllen.

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