XVI. O Empurrão Que Faltava

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– Hora de comer, pessoal! – Gritou um tripulante do cesto da gávea.

Todos comemoraram com vivas e assovios até o capitão sair de sua cabine. A fome era mesmo enorme. Todos começaram a descer do navante, saltando as amuradas ou pela escada. Ecco amarrou o pergaminho com a fita e o guardou na bolsa de couro. Yearnan logo se aproximou dele, com um semblante tristonho.

– Como foi seu dia emocionante? – Zombou Ecco.

– Táticas de guerra, mapas e mais mapas. Queria tanto ter saído.

– Aprendeu a ligar o navante? – Questionou, interessado.

– Sim. Não cheguei a voar, mas aprendi coisa melhor. Sabia que dá pra atirar arpões ao puxar uma alavanca do painel?

– Valha. – Exclamou. – Ainda assim, isso não é melhor que voar.

Yearnan riu e disse.

– Para alguém que não queria ser um voador, voar é melhor que atirar arpões?

Encurralado, Ecco riu.

– Não é por isso que não quero ser um voador!

– Por que, então?

– Ei. – Disse Nthaír, já na escada de cordas. – Vocês não vem?

Ambos desceram as escadas às pressas, seguindo o grupo até a cidade. Nthaír perguntou.

– E então, Ecco. O que decidiu?

– Go'ov. – Respondeu.

– O que tem Go'ov? – Perguntou Yearnan.

– Você não contou para ele? – Indagou Nthaír. – Achei que sim.

– Contado o que?

– Fugir. – Ecco respondeu, direto.

– Ah, já sabia. – Falou Yearnan. – Antes de sermos escolhidos para ir à Casa do Voador, Ecco já queria fugir.

– É a sede da Ordem de Alvedrena? – Perguntou Nthaír a Ecco.

– Para falar a verdade, não. – Explicou. Na fita que envolve o pergaminho está escrito algo como "Em Go'ov, no anfiteatro, icanes...", então vem um trecho incompreensível e "outro... do Desconhecido de Mrasth". Não consegui entender tudo, mas eu imagino que haja um pergaminho lá.

– Faz muito sentido. – Ironizou Nthaír.

– Que incrível! – Disse Yearnan. – Por que não vamos agora?

Os dois encararam o amigo imerso em euforia e responderam em uníssono.

– Comida, cara.

* * *

Ora, não demoraram nem dois minutos para chegar à uma torre muito grossa, com tochas na entrada e uma porta escancarada, demonstrando que qualquer um era bem-vindo. Era uma estalagem muito movimentada. Haviam ali seres de muitas raças, de vários tamanhos e aparências. Ao passar pela porta, Ecco viu uma placa que dizia "Proibido Saivos e Orcs.". Muito justo.

Todos se sentaram ao redor de várias mesas e o estalajadeiro as atendeu, uma a uma. Naquela noite, Ecco poderia alegar, eles comeram como reis, torta de javali, pernis de cocatrice e cimelim para ajudar a engolir. Conversaram até que escurecesse o céu e estivessem satisfeitos. Sendo um capitão da Armada, Gage Vomthire era um homem razoavelmente rico.

Quando terminaram, Ecco, Nthaír, Lophan, Arknel, Yearnan e Zäja saíram da estalagem para sentar debaixo das estrelas. O capitão, a tripulação e os aprendizes foram para o navante, mas os seis decidiram permanecer um tanto mais.

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