XVIII. Ochantgar

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Ecco puxou Yearnan pelo braço na mesma hora que uma pedra quase os acertou. Os dois iniciaram uma escalada em direção ao topo, esquivando-se das pedras que o homem arremessava. Era difícil para ele atingir um alvo em movimento, ainda mais de cima, mesmo que fosse muito bom. Os dois rapidamente alcançaram o portão. Uma vez ali, era impossível que o gordo os acertasse. Atravessaram os portões da mesma forma que o amigo.

– Nthaír! – Ecco gritou aos sussurros. – Cadê você?

A cabeça de Nthaír surgiu de detrás do torreão, acenando. Os dois decidiram contornar a torre para evitar que o gordo os acertasse. Contaram até três e correram o máximo que puderam, com as mãos na cabeça em claro gesto de proteção. Entretanto, nenhuma pedra foi arremessada, nenhum barulho foi feito.

– Você é demente? Por que correu pra dentro? – Questionou Ecco. A vontade de esmurrar o companheiro era quase tão grande quanto a de sair dali.

– Eu descobri uma coisa. – Ele disse, ignorando o reproche. – Aqui não é a Marca de Assos. É uma prisão abandonada!

Quase abandonada. – Enfatizou Yearnan. – Há um homem nos atirando pedras, pronto para nos matar.

– Isso não é importante. – Disse Ecco. – Apenas vamos embora.

– Claro que é! – Retrucou. – Abra o mapa pra ver onde estamos.

Ecco, relutante e já perdendo a paciência, tirou o mapa da bolsa e o esticou ali mesmo, na parede da torre. Bem acima da Marca, além do Forte de Terra, uma torre quadrada indicava a Prisão de Ochantgar.

– Ochantgar? – Yearnan tinha os olhos esbugalhados de fascínio. – A balaena?

– Não sei. – Disse Nthaír. – Pode ser apenas o mesmo nome.

– Podemos ver? – O olhar de Yearnan implorava por aquilo. Nthaír o acompanhou. Ecco sentiu-se pressionado. Ele odiava ser pressionado.

– E o homem?

– Ele é gordo. O que ele pode fazer? – Zombou Yearnan.

Como que esperando sua deixa, o gordo em questão acertou uma pedra nas costelas de Yearnan, que urrou e se contorceu de dor. Ele contornara a torre principal pelos adarves sem ser ouvido.

– Saiam daqui, seus malditos bisbilhoteiros. – Praguejou com voz agressiva enquanto atirava mais pedras. – Saiam ou sofrerão!

Ecco e Nthaír carregaram Yearnan até a primeira porta que encontraram. Estava aberta. Assim que entraram, trancaram-se. Yearnan deitou no chão, ofegante como um pavão que corre mas não voa. Levantaram a camisa dele e viram o sangue escorrendo de uma úlcera inchada. A ferida não era tão feia, mas a dor provavelmente era.

O lugar tinha um tamanho médio, quase grande. Uma escada em W feita com madeira de mogno, talvez, acompanhava a quina da torre e os guiava para vários andares acima. Debaixo dela, uma porta de algum material extremamente incomum bloqueava a passagem à torre de menagem, onde poderia ser o calabouço. Nthaír subiu as escadas sob o preceito de procurar uma janela ou seteira de onde pudesse ver o homem.

– Como está?

– Eu vou ficar bem. – Yearnan disse. – Vamos ver a balaena.

– Você nem tem condições de andar! – Exclamou Ecco.

Nthaír gritou.

– Ele está descendo até o pátio!

– Merda.

Yearnan não vai conseguir subir as escadas, pensou Ecco.

– Vá sem mim. – Disse Yearnan. – Eu posso fingir que desmaiei.

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