* * *
SALMO IA poeira,
Em contra-mão da gravidade,
Em minhas narinas oxigenava medo,
O desprezo injusto a puxar-me os cabelos.Estou ao chão.
Cuspida.
Roxeadas bordas de meus olhos
Não retém dilúvio.
A poeira sobe e minhas lágrimas caem.
Pó e água: é onde me encerro.
Oceano tinto,
Sangue vindo.O grunir das pedras deixa o chão,
Suas asperezas grudam à mão.
"Sentenciada seja, prostíbula.
Nem defesa ouse
Tua mandíbula".Poeira empasteceu o céu,
Que é o solo no qual minha cara fuça obrigada...
Ouço alguém e... o vejo!
Agueirado em pó,
Risca a dedo o chão,
No limiar da terra
Vejo seu rosto como clarão.
A cada rabisco que intenta,
Carinho à face me assenta.
Quem és Tu?"Lei ou vida? Tu decides!"
Ele se oculta na poeira que sou e fita-me.
E eu lhe digo:"Deus tem compaixão desta cidade
E de mim que andei em suas ruas
Secretamente dizendo-me:
Sou poetisa no que amo.
Que cansaço é viver!
Um mosquito cantor rodeia minha cabeça:
Decidi-te à santidade.
Me desgostam turistas da alma.
Só existe um lugar, a picada do sofrimento,
E ela é perfeita.
Não me entrego mais por quem nunca viu o mar.
Minha mãe perdoou meu pai,
Meu pai perdoou a mim:
Encontro de poeira e lágrima.
Estes oceanos sim"."Os pecados, quem não os tiver, atire!"
E a poeira sanou,
As águas retrocederam
E ele ainda no limiar do solado sorriu-me:"Nem eu te condeno! Vá, deixe a poeira dos homens,
Ganhe as águas, meu oceano é teu..."Desde então
Ganhei o meu veleiro.
"A Misericórdia sempre vence"
É seu nome...- Maria de Magdala.
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Salmos de Madalena
PoetryEssa coletânea de poemas intenta ser uma Ode ao feminino e a sua estreita relação com o Transcendente. Deus não é homem nem mulher, mas certamente traz em si - e no-lo dá a revelar - o que tem e gera de feminino e, por naturalidade, as mulheres tran...