EUCARÍSTICA II

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* * *SALMO XXII

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SALMO XXII

"Eu creio na ressurreição da carne..."
Nisto eu empaquei.
Faltou-me fé?
Ladeira íngreme demais,
Meus dias tem sido uma escalada
E eu insisto olhar para o alto...
Finjo, isso é certo.
Estou com um medo trêmulo.
Retomo:
"Eu creio na ressurreição da carne..."
Todos fitam o altar,
eu volto e sucumbo no tempo:

Voltei à esposa fidelíssima quando
A traqueostomia abre,
Inhaca de sangue sobe.
"...Eu estou aqui, meu amor,
se quiser pode chorar..."
- Santificai nossa oferenda, ó Senhor!

Saí correndo
E encarei o quanto é velho, na doença, o homem,
Rouquidão lhe pesa a fala.
"Eu não quero vegetar, filho meu".
- Salvador do mundo, salvai-nos!

Ergui os joelhos e reparo
A mulher à cama,
Desfia a corda do sentir
E dores são seus fios de cabelo.
"Esta noite eu rezei muito,
estou com medo de morrer"
- A todos dai a luz que não se apaga!

A missa acabou.
Incenso e hálito são minhas narinas
E eu desço ladeira abaixo.
Faltou-me fé?

Eu creio, eu creio,
desgraçados senhores.
Querem que eu jure?
Os vitrais escureceram,
Alguém jogou os castiçais.
O diabo vem e só teóloga.
"É carne ou é corpo?"

Eu creio na carne, é isso.
Estragável e egoísta.
Eu creio é nisto:
No pitiú destas feridas,
Nos ossos corroídos e de insustentáveis músculos,
No cítrico lambível de sujeira
E insônia compulsiva de morfina.
Eu creio no sexo da criatura sem cio,
No macho e fêmea esponsais até o fim...
Eu creio e seguro mãos e as deixo só,
Ao leito.
É o amor que eu sempre quis,
Mas me horroriza.
Sim e apesar disso eu creio,
Porque me falta a paz
E eu lanho a esperança
Mordazmente.
Eu creio na esperança da Ressurreição
Da carne!
Mas dai-me corpo,
Sacramenta-me!
Meu túmulo não está vazio,
Quero uma cruz para destrancá-lo,
Um cirineu para consolar-me,
Uma mãe para despedir-me
E umas faixas de linho para deixar pra trás...

- Giza de Magdala.

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