OS TRÊS ARCOS

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* * *SALMO XLVII

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SALMO XLVII

Eu murmurava o caminho
Da mesmíssima rua
Na missão daquele bairro pobre.
Baixei os olhos como se faz nos instantes que precedem comoção.
Um hashimalin alvejou-me
Com obscuridade e pôr-do-sol,
Eram as sendas dos apegos dos homens.
E vi a Santíssima Trindade, nua.
E conduziu-me por três arcos.

Sob o primeiro arco tinha como que uma cabana
Em tons de cupins a corroer madeira,
Uma mulher estedia roupas
E as crianças catavam gravetos para fazerem de brinquedos.
Nada ali lhes pertencia,
Era uma invasão improvisada ao córrego,
Uns puxos de corda roubavam luz
E as janelas eram tábuas pregadas
Não contra os raio do dia,
Mas contra os verdadeiros e ricaços donos.
Olhei e olhei
E os moradores negaram-me a cara.

Sob o segundo arco crescia um lamedo de chorume
E o céu era uma revoada de urubus-reis
E eu pisava em lixo, fome e asco.
A mão de uma grávida revirava as sacolas
Já mucosas e pútridas
E outros mais filhos seguiam o ofício.
Olhei e olhei
E os catadores encararam minhas mãos ao rosto.

Sob o terceiro arco haviam alvenarias
Cruamente tijoladas
E nelas se abrigavam os de expressão pesada,
O baldio do mundo.
Mesmo os mais jovens eram rugas de humilhação.
E havia crime, expurgo e omissão.
Olhei e olhei
E os transeuntes lamentavam meu estrangeirismo.

Largou minha mão a Santíssima Trindade,
Me acenou um adeus
E vagueou naquele solo sem remetencia.
Eu voltara para minha Igreja,
Num caminho largo e com nuvens.
E quando rezo à noite choro,
Pois é do outro lado dos arcos
Que o sol se põe, que eu me perco de meu ego e que a Deus se acha.

‐ Ellen de Magdala.

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⏰ Última atualização: Sep 18, 2019 ⏰

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