* * *
SALMO IIAo ser evocada fêmea,
Quiseram me anunciar com trombetas.
Puxei de lado um anjo do tipo ofanim,
Desses que tocam gaita,
E mandei anunciar-me em assobios.Em compostura febril disse:
Vai guerrear como macho-pilão.Censurada gritei
Para que me ouvissem as minhas mil gerações futuras,
Com timbre genético da Eva sem vergonha de Adão:Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa desposar
E ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
– dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.Simone de Magdala.
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Salmos de Madalena
PoetryEssa coletânea de poemas intenta ser uma Ode ao feminino e a sua estreita relação com o Transcendente. Deus não é homem nem mulher, mas certamente traz em si - e no-lo dá a revelar - o que tem e gera de feminino e, por naturalidade, as mulheres tran...