QUANDO DEUS TOMBOU

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* * *SALMO XXVI

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SALMO XXVI

Quando Deus tombou,
Ante meus olhos,
Não desviei o rosto.
Negrume era o solo
E sua face rasteirava o pó.
Quando Deus tombou gritamos.
Era choro, era escárnio,
Era alívio e também mudeza.
Isso quando Deus tombou.

Quando Deus tombou,
Também hastearam a liberdade,
Tão comovente a trama
Que, entre lagrimas,
Só soubemos gargalhar.

Quando Deus tombou
A ninguém se lhe tirou a vida
E as profecias arrefeceram.

Quando Deus tombou
Eu dei um passo
E não zonzeei.
Era um diabo de trapo aquele homem,
Carniça dada a queimar em sol.

Deus tombou
E nós, o cosmo, bailamos
Sem notá-lo.

Deixei-o para trás
Sem nem dobrar o olhar.
Parti como o mais comum das gentes.
Prece ou rogo
Não tocaram-me os lábios.

Hoje, já não sei em que vento
O pueril de Deus ninharou-se.
Não fazemos conta de seus feitos.
– Supondo que os tenha feito.

É a um Deus tombado
Que se encaminham os mais
Perecíveis dos homens.
Não, não falo dos que ficam
A monumentar templos,
Polerir altares ou cantar noutras letras.
Digo de homens a cavar na terra,
Com as mãos nuas e pés úmidos,
O que a vida esgota
Sem saber de eternidades.
Digo dos homens que sangram o tempo
E sempre envelhecem antes das horas.
São os homens que tocam a ferrugem
E olham o ouro
E não os distingue.
Homens que vagueiam
Em penumbras de noites quaisquer
E lampejam o dia
Como primícias dos frutos deste mundo.

São homens que tombam,
Não porque derrubados.
Inclinam-se, por própria escolha,
Ao bem deste chão
E lá se evanescem
Como um Deus tombado
A sepultar o coração.

- Luzia de Magdala.

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