POEMA SINÓTICO

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* * *SALMO XLVII

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SALMO XLVII

Escrevo para exorcizar-me
Dos anjos, do meu primeiro beijo chorado...
Ah aquele primeiro olhar de adeus
É-nos um mistério anichado.
Só quando meus pecados estiverem
Nas mãos dos santos poderei sanar-me.
Antes, porém, dessa volta de mundo,
Piedosamente escrevo
E todos os suspiros que insuflei
Cinzentaram nuvens
Que outros de vós chamam
Beleza,
Poema,
Horror...
Eu chamo-as de meu bem e fim-primeiro.
Jaz uma crônica
Nos meus olhos,
A ponto de transbordar.
Vejo o impalpável.
E palpito vozes cruas jamais ditas
E as escrevo e escrevo.

Sem que eu faça sinal,
Minha mão retalha uma cruz sobre mim
E os papéis que maculei
São glória
Das minhas confissões não perdoadas.
Agora mesmo eu as sinto,
Veniais, sorvendo
As orações que enlaço.

É que sou padroeira de iletrados.
Sim, os de afagos sem linhas;
Os de tinta-sangue-anêmico
De amor;
Os de paz em vírgulas e choros-reticências;
Os de sorriso-exclamação e virgens-hífens...

Por mim, por Deus e por mim de novo
Escrevo.
Estarreço em braços como menino-Deus,
Devolvo em pedradas a pedra
Do fariseu,
Absolvo judas,
Deixo Pedro errar
Quanto quiser das vezes,
Machadeio o lenho-cruz
Antes de erguido,
Dobro e desdobro linhos de pano
A cada túmulo que escavo...
Nada me basta!
Escrevo e escrevo.
Maldição do poeta é ser isso:
Apócrifo de si mesmo.

- Dulce de Magdala.

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