C A P Í T U L O 1

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CAPÍTULO UM

Estávamos na segunda quinzena do mês de dezembro, quando soube que havia sido reprovada no último ano do ensino médio. No entanto, não me surpreendi com o resultado, afinal, por diversas vezes "matei aulas" e minhas notas, ao decorrer daquele ano, tornaram-se um fiasco, cada vez mais distante da média. Isso sem pontuar o fato de que eu detestava aquele colégio.

Naquela manhã, voltando da escola com o boletim de reprovação, fiz uma careta ao imaginar a reação de mamãe. Provavelmente, me olharia com decepção, lamuriando por não frequentar a universidade no próximo ano.

Embora não tivesse o hábito de frequentar todas as aulas, eu não era uma má aluna, pois sempre respeitava meus professores. O divórcio dos meus pais tinha grande culpa do meu desânimo no âmbito acadêmico. E isso ocorreu quando eu tinha apenas quinze anos de idade.

O fato de cada um deles seguir com a sua vida, obrigou mamãe e eu a nos mudarmos para outra cidade e, consequentemente, trocar de colégio, afastando-me de alguns amigos.

*.*.*

Em meu quarto, uma melodia ecoava, fazendo-me pensar no futuro. Sem dúvida, as coisas no ano seguinte seriam diferentes, já que finalmente seria maior de idade e não seria qualquer colégio que me aceitaria como aluna.

Pensava em me submeter a algum curso de supletivo, assim, restaria tempo para trabalhar e estudar para o vestibular. Se tudo acontecesse conforme os meus planos, talvez minha mãe não "pegasse tanto no meu pé".

Talvez, ainda conseguisse terminar meus estudos ainda no primeiro semestre e então conseguisse ingressar como bolsista em uma faculdade particular para cursar Direito.

Em meio aos meus pensamentos, acabei adormecendo e despertei no fim da tarde, quando mamãe chegou do trabalho, fazendo barulho, porém fingi que estava dormindo quando escutei ela se aproximar do meu quarto.

— Beth! — ela bateu na porta, abrindo-a logo em seguida. — Sei que você está acordada! — disse firme, me sacolejando. Era difícil enganar minha mãe.

Revirei-me na cama e a olhei. Ela esboçava curiosidade. Talvez, já sabendo que possivelmente mentiria para ela. Por fim, sentei-me e ajeitei meus cabelos negros em um coque mal feito.

— Ah, qual é, mãe?! — fiz uma careta, deixando transparecer o quanto estava aborrecida. — O que a senhora quer?

— Quero o resultado que você foi buscar, ué — ela arqueou uma das sobrancelhas delineadas, esboçando sua impaciência.

Silenciosa, franzi os lábios e estiquei-me para alcançar os papéis que estavam sobre o criado-mudo, entregando-lhe o boletim logo em seguida.

A cada segundo que minha mãe lia aquelas notas, sentia meu coração palpitar forte. Pensei em sair correndo do meu quarto ou me esconder embaixo da cama, aguardando por seu sermão.

— O que significa isso, Elizabeth? — ela jogou o papel em meu colo, fuzilando-me com seus olhos castanhos escuros.

— Ah, ué — dei de ombros, embora estivesse trêmula. — Fui reprovada.

Ela suspirou fundo, como se engolisse cada pedacinho da raiva que lhe envolveu naquele momento. Logo pensei que se eu tivesse irmãos seríamos comparados, ainda mais se eles fossem um exemplo a serem seguidos. Dei graças por ser filha única.

— Beth, eu não sei mais o que fazer com você... — murmurou, desanimada. — Pensei que quisesse entrar na faculdade, ter uma profissão...

— Eu queria, sim — falei encarando-a de soslaio, cabisbaixa. — Mas você e o meu pai não colaboraram com isso! Esse divórcio me desestruturou toda, mãe!

Mudança De Planos (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora