C A P Í T U L O 24

6.9K 468 296
                                    

CAPÍTULO VINTE E QUATRO - FINAL

No trajeto do hospital até a minha casa, meus pais mantiveram-se silenciosos. Pensei que fossem fazer dezenas de perguntas, mas mal abriram a boca para dirigirem a palavra um ao outro. E aquele silêncio colossal me destruía por dentro, estilhaçava-me.

Quando finalmente papai nos deixou em casa, respirei fundo tentando encontrar respostas para meus questionamentos. Tudo em minha mente havia se misturado, formando vários nós apertados, impossíveis de serem desatados. Onde Lunna e Nicolas foram parar? E onde estava Helena?

— Elizabeth, eu quero falar com você — Laura, minha mãe, disse assim que viu que eu seguia para o meu quarto.

Estava de costas para ela. Fechei os olhos por uma fração de segundos e respirei fundo, sendo tragada para o meu inferno particular.

— Pode falar, mãe — minha voz ainda estava baixinha, pois a garganta ainda estava dolorida.

— É uma conversa séria — ela pontuou firmemente.

Inspirei fundo mais uma vez e abri o zíper do casaco de gola alta que usava para esconder os hematomas causados por Oscar, aproximando-me de minha mãe.

Ela sentou-se no sofá, colocando a bolsa sobre a mesa de centro da sala e passou as mãos pelos cabelos sedosos, mirando-me em seguida. Sua feição estava carregada de seriedade e seus olhos pareciam querer ler a minha alma.

Timidamente, sentei-me na poltrona do lado, relaxando o meu corpo.

— Tive uma conversa muito séria e longa com a diretora Helena — prendi a respiração por alguns segundos, sentindo uma dose de tensão preenchendo meu corpo. — E ela me contou exatamente tudo o que aconteceu — era notável a decepção contida na tonalidade da sua voz.

— Tudo... O quê? — perguntei arregalando os olhos, sentindo o coração palpitar.

— Tudo, Elizabeth — falou olhando em meus olhos com profundidade. — Contou-me sobre o que houve na noite da festa, do casamento dela com o Oscar e sobre o relacionamento de vocês duas — naquele momento, quis ter um infarto e morrer. — Quando você pretendia me contar?

Um silêncio infinitamente constrangedor envolveu a atmosfera tensa daquele papo. Estava trêmula. Queria cavar um buraco no chão e escapulir para o infinito. Senti minhas bochechas se aquecerem. Tive certeza que eu estava tão vermelha quanto um tomate.

Meus lábios estremeceram, balbuciei algumas sílabas. Respirei fundo.

— Mãe, eu... — franzi as sobrancelhas e todos os meus pensamentos se chocaram de uma vez só em minha mente. A garganta tornou-se mais estreita, a voz falhou, meus olhos encheram-se de lágrimas. — Tive medo.

Ela balançou a cabeça, em negação.

— Tudo virou uma bagunça dentro de mim, mãe! Nem eu conseguia entender direito o que sentia pela Helena!

— Aquela escola te virou do avesso, Elizabeth!

— E foi do avesso que eu me descobri, mãe... Mesmo com todo medo, com tanta confusão... — finalmente a primeira lágrima escorreu.

Ela levantou-se do sofá e ajoelhou-se na minha frente, apoiando as mãos em minhas pernas.

— Minha filha — sussurrou enquanto eu chorava copiosamente. — A sua sexualidade não vai mudar o seu caráter e muito menos vai interferir no meu amor por você! — me abraçou. — Mas você correu riscos! Poderia ter morrido!

— Eu não pensei nisso. Só queria viver, me envolver com a Helena foi uma das melhores coisas que me aconteceram...

Ela beijou meus cabelos.

Mudança De Planos (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora