Capítulo Quinze

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— Por que devo lhe conceder o alvará, srta.Mitchell?

Estava no fórum de frente para a juíza, em poucos dias a ONG séria inaugurada e precisava do alvará para conseguir fazer a contratação de funcionários, o que não esperava era que pediram uma audiência, por um momento me senti mal mas depois pensei em como foi chegar até aqui estava próximo a concretizar algo que realmente fizesse bem para os outros então ergui a cabeça, coloquei meus saltos mais altos e aqui estou pronta para o que der e vier.

— Porque também vim da rua meritíssimo, por pouco não fui vendida por uma pedra de crack.

— É mesmo? — ela disse folheando algumas pastas — É brasileira, por que não fez esse mesmo trabalho em seu país?

— Fui sequestrada e enquanto estava em cativeiro vi a realidade que se passa por trás dos muros, crianças pequenas, deficientes e adolescentes trabalhando para ganhar algum centavo para não morrer de fome — disse — Quando decidi criar a ONG não foi só aqui, esse mesmo projeto segue em meu país também.

— Isso me parece interessante — ela respondeu com seu olhar severo — não costumo fazer isso, mas tenho o interesse em conhecer sua ONG. Quais os trabalhos que irá fazer pelas crianças?

— Não só crianças, mas sim adolescentes — abaixo o olhar mas logo o levanto com um sorriso — Será um abrigo, um Lar para crianças, adolescentes e mães que sofrem com a violência doméstica, quero que elas saibam que não estão sozinhas. Daremos de alimentação, abrigo como ajudá psicológica, professores prontos para educação de qualidade e o mais importante, há ajuda para conseguir um trabalho.

Sai do fórum com orgulho de mim mesma, pois a última parte estava concretizada e me sentia tão emocionada e animada para que tudo estivesse pronto para receber meu avô que voltava do Havaí para a inauguração. Owen já me esperava na saída e assim que entrei no carro seguimos em direção a ONG. Mandei uma mensagem para Kate e Jane avisando que tinha conseguido, ambas já se encontravam no local a minha espera.

— Owen — chamei, ele me olhou rapidamente pelo retrovisor — Poderíamos passar naquele Starbucks que tem próximo a ONG?

— Perfeitamente.

Olhei me aconcheguei melhor no banco de trás. Eu estava me sentindo tão feliz mas ao mesmo tempo tão estranha, um sentimento agoniante se instalou ao meu peito e a sensação ruim de que algo poderia acontecer me fez arrepiar aquela sensação de que o local parecia pequeno demais e uma necessidade de que estava sendo espremida dentro de uma lata de sardinha, era mais ou menos assim que eu me sentia dentro do Jagua. Nunca fui claustrofóbica não me importava em está em um local pequeno e apertado, mas naquele momento necessitava como um burro sai daquele carro. Logo viramos a esquina e Owen estacionou, abrir a porta soltando um longo suspiro, segui até a loja indo em direção ao balcão.

— Ray... como vai? — perguntou, Hannah com um sorriso — está pálida, quer uma água?

— Olá Hannah, não obrigada — sorri, passando a mão sobre a testa — meu pedido está pronto?

— Claro, um segundo — Hannah, se virou e foi para os fundos da loja logo voltando com duas caixas grandes — Aqui está, espero que gostem.

— Obrigada.

Depois de pagar, avisei para Owen que seguiria andando as duas quadras para ONG, como um excelente em seu serviço ele veio logo atrás usando seus óculos escuros. Não estava aguentando mais ficar naquele carro e se voltasse para ele enlouqueceria.

Logo quando cheguei a ONG fui recebida pelas minhas amigas que estavam mais animadas que o normal e pelos meus pais. Abracei e beijei todos mas algo ainda estava estranho, quando vi uma certa cabeleira tão conhecida por mim, o estilo arrumadinho bagunçado combinava com Bruce, ele é Benjamin se encontrava em um canto escondido entretidos em uma conversa animada. Quando me viu Benjamin veio correndo até mim me abraçando forte.

— Parabéns Ray — ele me saudou — como diz a Jane, você foi pica.

— Obrigada, não aprenda nada com a Jane — disse, apertando seu nariz.

Bruce se levantou, ele estava tão estupidamente sexy e delicioso naquela terno azul escuro e a gravata preta que se não estivessemos separados transaria com ele ali mesmo naquele cantinho. Ele se aproximou com seu sorriso tímido que brincava no canto de sua boca.

— Parabéns — cumprimentou — Ficou incrível.

— O que faz aqui?

— Bom, agora tenho um novo amigo... ele meio que me convidou a vir comemorar.

Seu olhar desceu para Benjamin que sorriu e logo saiu correndo em direção as meninas.

— Ray... eu quero te pedir...

Sabe quando tudo fica mudo, quando o mundo parece desacelerar de uma hora para outra é que você não consegue pensar direito, foi bem assim que me senti quando ouvi um disparo e todos correram, o olhar de Bruce se tornou assustador como se ele tivesse levado um susto daqueles que te fazem o coração disparar. Uma queimação em meu peito aumentou, sorri para sua expressão, e em automático levei minha mão até minha barriga sinto molhada e com certeza Benjamin derramou suco em mim, abaixei o olhar e minha blusa estava suja de... só que não era suja de suco ou refrigerante, era algo mais espesso e vermelho. Então meu corpo se tornou tão pesado que não tive como me manter em pé, senti o impacto do chão duro em meu corpo e a voz de Bruce turva.

— Ray... fica comigo... Ray... — ele parecia tão desesperado.

— O que hou...hou...houve? — disse confusa quando sua mão fez pressão em minha barriga — você está tão engraçado...

— Estou meu amor, — ele riu, mas podia sentir a dor em sua voz — Por favor... não dorme! RAY!

— Não consigo... estou com sono... — disse olhando para o lado, meus pais estavam ajoelhado e minha mãe chorava sem parar — mamãe, por que está chorando?

— Oh, minha menina... — ela segurou a minha mão.

— Ray! meu amor... olhe para mim, lembra... lembra da nossa viagem para Espanha... quando você se engasgou com camarão.

Meus olhos estavam tão pesados que mal poderia mantê-los abertos, movia minha cabeça que parecia se pressionada por uma pedra, de forma lenta. Para onde eu olhava podia ver Kate ou Jane chorando, sendo amparadas por Roberts ou Henry, só então entendi o que estava havendo, um pânico tomou conta de mim naquele momento e como um redemoinho se fazia dentro de mim.

Minha visão se embasava em preto como se não conseguia focar direito, virei a cabeça em direção a Bruce que conversava comigo para me manter acordada, seu rosto era tão bonito e a imagem de quando o vi pela primeira vez veio em minha memória, seus olhos afiados porém gentis e a boca tão suja quanto poderia me dar prazer. Eu o amei desde o primeiro instante, amei seu jeito, seu olhar, seu sorriso e seu atrevimento, amei seu corpo e principalmente amei seu coração, tão cheio de carinho e ternura.

Virei para minha mãe que segurava firme em minha mão, sorri.

— Mamãe... — ela focou os olhos em mim — Obrigada.

Voltei a encarar o homem que foi tudo para mim, meu grande e único amor, meu amigo companheiro, protetor e eterno amante.

— Ei... — chamei, seus olhos vermelhos marejados — Eu te amo.

A escuridão me consumiu como o fogo consome uma casa, devorando-me lançando em um abismo sem fim, a última coisa que ouvi foi a voz de Bruce. Eu o amaria além da eternidade.

Ensina-me - Felizes para sempre?Onde histórias criam vida. Descubra agora