Capítulo Quatorze

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— Quero cores vivas, como amarelo, verde, rosa. Quero alegria !

Fazia-se exatos sete dias que não tinha notícias de Bruce, não ia a empresa e muito menos as reuniões do conselho e isso estava realmente me preocupando, ele nunca deixava as questões da empresa em segundo plano. Ok, estava dando um gelo nele daqueles que fez até o Titanic. O galpão onde a ONG Lúcio Mitchell seria fundada estava quase pronta, todos os papéis já assinado e a autorização do serviço social dos Estados Unidos já tinha permitido que as crianças resgatadas pudesse vir para cá, com uma grande emoção podia ver um sonho ser realidade, o que um dia pareceu algo remoto estava sendo concretizado mas como uma apaixonada não estava satisfeita, olhava o que seria o dormitório das meninas; as cama que logo seriam montadas, guarda roupas já postos, me perguntei se em um futuro paralelo Bruce pudesse desfrutar dessa mesma felicidade que estava sentindo.

— Ray! Ray! — Gritou Benjamin entrando correndo — É Manny! ele está aqui!

Senti meu coração gelar, engoli seco e segurei em seu rostinho em seus olhos podia ver o medo e o desespero, tirei uma mecha de cabelo negro que lhe caia sobre a testa.

— Não se preocupe... — tentei lhe passar tranquilidade — eu vou cuidar dele.

— Não quero ir com ele Ray... não deixa — suplicou se agarrando a minha cintura — Vá até o escritório e chame Roberts, peça para me encontrar na portaria.

Ele assentiu com a cabeça e saiu correndo, agradecendo por está de salto marchei até a porta da frente onde alguns trabalhadores descarregam.

Encontrei o sujeito com mais dois rapazes um pouco mais do seu tamanho. O tipo fedia até o último fio de cabelo, e seu olhar média a pura maldade fazia a Rainha Má ser fichinha para a maldade. Parei uma distância segura cruzando os braços aqui.

— Posso ajudar?

— Você e a vagabunda que está com meu menino? — rosnou apontando para mim.

— Acho que o senhor está no lugar errado! Peço que por favor se retire.

— Devolva Benjamin! — gritou.

— Olha meu senhor, Benjamin não vai voltar para aquele chiqueiro — senti meu sangue ferver — seu explorador, trabalho infantil é crime !

— Não diga o que não sabe, cretina.

— Mas respeito, meu senhor! — a voz de Roberts tomou uma entonação mais grave com o sinal que faltava pouco para perder a paciência.

— Benjamin não vai com o senhor! Perante a lei tenho sua guarda provisória, é em breve ele será meu filho. Então, não pense em chegar perto dele outra vez ou eu juro que eu mesmo uso meus saltos para arrancar seus olhos — ameacei — enquanto as outras crianças, em breve sairão das suas patas. Agora vá embora, antes que eu chame a polícia.

Nesse momento Owen apareceu do meu lado e afastou a jaqueta preta militar mostrando a arma em seu coldre, Manny olhou para ele e depois para mim mas seu olhar feroz se concentrou mesmo em Ben que me apertou ficando logo atrás.

— Você me paga pirralho.

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Era quarta a noite, meus pais havia levado Ben para assistir algo bem chato na Broadway, eles sempre faziam isso comigo quando era mais mais nova. Sempre nas férias viajamos para cá e minha mãe planejava aqueles programas horríveis de turistas com direito a espetáculos ridículos. Como iria trabalhar até tarde resolvi voltar para casa e trabalhar por lá mesmo enquanto devorava uma pizza e fanta laranja.

É foi exatamente o que eu fiz, cheguei em casa deixando a bolsa e as patas sobre a mesa, tirei o salto agradecendo por mais um dia e por enfim poder tirá-los. Depois de um banho quente e vesti meu pijama de flanela liguei pra pizzaria pedindo uma gigante com bastante queijo e mussarela, antes que fosse me jogasse no sofá a campainha tocou olhando pelo olho mágico soltei um longo suspiro abrindo a porta.

— Ray...

— Eu já entreguei suas coisas para sua mãe — disse olhando para o homem que um dia jurei amar incondicionalmente.

— Eu sei, — respondeu coçando a nuca — podemos conversar?

— Não, não podemos. — cortei segurando as lágrimas — Você me magoou, me humilhou na frente de todos, agiu como um completo babaca e ainda tem a cara de pau de vir até aqui?!

— Eu sei... estava com ciúmes Ray!

— Ciúmes?

— Você não entende...

— Claro que não entendo, Bruce! Você vinha agindo como uma criança — soltei uma risada amarga — Não.. não até uma criança seria mais maduro que você! Você agiu como um bastardo preconceituoso, sem compaixão e amor ao próximo.

— Sei como agir! — Falou — É não me orgulho disso.

— Onde esteve durante todo esse tempo?

— Pensando...

Antes que ele pudesse concretizar o que estava dizendo o alarme do elevador apitou é meu pais saírem acompanhado de Benjamin, o menino olhou para mim e depois para Bruce e sua tristeza era tão evidente. Naquele momento me senti estranhamente confusa com toda aquela cena que não era normal para mim, bom acho que não era para ninguém naquele corredor. Pude ver meu pai respirar fundo e travar a mandíbula, minha mãe como uma eterna Lady segurou em seu braço impedindo que se atracasse com ele.

— Bruce. — cumprimentou minha mãe cautelosa — Como vai?

— Boa noite, Claire — respondeu de forma cortês — senhor Mitchell.

— O que faz aqui rapaz? — Resmungou meu pai — Já não causou sofrimento bastante a nossa filha?

— Não quis causar sofrimento algum, senhor Mitchell.

— Mas causou — rosnou meu pai — se não fosse filho do melhor amigo do meu pai teria atirado nesse seu traseiro branco.

— Pai! — Exclamei — Bruce já estava de saída, não é?

— Passar bem.

Bruce lançou uma última olhada e partiu entrando no elevador, mentiria se não dissesse que estava morta de saudade na realidade estava tão triste e magoada que não sabia quando essa agonia sairia do meu peito e me desse espaço para respirar tranquilamente. Deus, eu o amava tanto mas tanto que chegava a sufocar meu coração, quando o vi senti vontade de correr para seus braços, beijá-lo e transar aqui mesmo no corredor e só terminar na casa, mas as imagens dele bêbado com aquelas mulheres foi tão nítido que tudo que senti foi uma repulsa muito grande.

— Como foi no teatro? — perguntei dando passagem a minha família.

— Um saco! — resmungou Benjamin — Não entendi nada, preferia ver o filme do pelé.

Minha risada foi tão forte que me fez esquecer o vazio que havia dentro de mim ocupado-se com o som da risada do meu pai.

— De fato rapazinho — disse meu pai — É uns dos meus favoritos.

Olhei minha família e me perguntava se um dia ainda teria essa oportunidade, de viver feliz ao lado do homem que amava como minha mãe vivia com meu pai, é se poderia repreender meus netos por alguma gafe um futuro que por um momento me pareceu tão claro mas que em um segundo foi coberto por uma neblina escura que com total certeza não passaria tão cedo.

Ensina-me - Felizes para sempre?Onde histórias criam vida. Descubra agora