ALGUÉM COMO VOCÊ

Epílogo

Lindsey

O cheiro de escapamento e o barulho do motor é estridente e familiar. Os carros já estão posicionados na largada, somente aguardando a autorização para seguir. A multidão em volta se agita com aplausos e gritos enquanto encerram suas apostas.

– Madeleine, agora é só eu e você garota.

– É isso aí mãe, nós vamos acabar com eles. – Gritou minha filha eufórica e dando um soquinho no ar.

– Ahh isso não é justo. Porque tenho que ficar no time do papai? Ele dirige igual à vovó. – Resmungou meu filho.

– Obrigado Adrian, vindo de um garoto de dez anos isso foi realmente encorajador. – Falou Jamie rindo.

– Desculpe pai, mas a gente sabe que a mamãe é a melhor. – Falou Adrian meio sem jeito.

– Você não pode ficar no time das meninas Adrian. – Disse Madeleine.

– Eu sou dois anos mais velho que você, eu que deveria decidir. – Adrian respondeu irritado.

– Vocês dois, podem parar com isso. – Repreendi. – Adrian vocês têm o tio Kev no time. E nos temos a tia Line que é tão boa quanto o seu papai. Então estamos quites. – Adrian riu e concordou.

– Vocês estão prontos? – Gritou meu pai da linha de largada.

– Sim tio Arnold, vamos logo. – Gritou Max todo empolgado.

– Vamos repassar as equipes. – Gritou tio Art que é o mentor da corrida. – Linda, Madeleine e Line estão no time azul. Kev, Jamie e Adrian no time vermelho. Manu, Perseu e Michelle estão no time amarelo. E Andy, Dan e Alex no time verde. O competidor da equipe vencedora levará os doces das apostas. Tudo bem?

– Sim. – Todos responderam uníssono.

– Competidores em posição. – Gritou Art. E o ronco dos motores ficou ainda maior com a aceleração. – Vão. – Ele gritou e baixou a bandeira verde.

Todos seguiram em disparado pela pista de terra cercada por pneus. Tio Art construiu esse kart no centro da cidade em Connecticut para atrair a atenção dos turistas, o que foi uma grande sacada, pois a pista é um sucesso e pessoas de toda a região vêm aqui para competir.

Dan e Line largaram na frente, logo após estava Manu, Alex e Jamie. Já na primeira curva Manu não conseguiu controlar o carro e deu de frente com os pneus. Adrian seguiu logo atrás em uma disputa acirrada com Perseu. Madeleine acelerou fundo e ultrapassou Michelle a toda velocidade assumindo a quinta posição. Eu acelerei ainda mais e consegui ultrapassar Jamie, que ficou na quinta posição. Eu freei na curva, ele tentou aproveitar a oportunidade para me passar, mas acabou indo parar nos pneus.

– Não dessa vez meu amor. – Gritei e ele riu.

Adrian estava avançando e conseguiu ultrapassar Dan, o carro de Alex começou a sair fumaça do motor e ele precisou sair da pista. Line e Max estavam em uma disputa acirrada, mas logo Madeleine acelerou ainda mais e conseguiu passar pelo meio dos dois. Perseu agora estava em último lugar, junto com Michelle e Dan. Max estava logo à frente, acelerei e passei por ele que gritou um palavrão, mas que não entendi. Madeleine acelerou e conseguiu passar Adrian assumindo a primeira posição. Eu estava prestes a passar por Adrian, mas resolvi tirar o pé e deixá-lo ganhar. Madeleine venceu e Adrian ficou em segundo.

É feriado de quatro de julho, e como fazemos tradicionalmente todos os anos viemos ao lago comemorar meu aniversário de quarenta anos. Depois da corrida voltamos para o acampamento e iniciamos o nosso churrasco enquanto as crianças, que já não eram tão crianças assim, estavam brincando na água.

Todas as vezes que estamos aqui me bate uma saudade imensa da minha mãe. Mas ao mesmo tempo estar aqui, com minha família e meus amigos, é sempre uma sensação boa de paz e tranquilidade, parece que tudo está certo no mundo. Até mesmo Tony, que após anos ainda não perdeu o medo de acampar veio conosco, mas sem dúvida ele e Chloe ficaram dentro da casa com tio Art e papai. A única coisa que mudou é que agora Chloe não usa mais as roupas extravagantes de antes, até porque ficaria estranho uma Monster High grávida de sete meses.

Após o jantar fizemos nosso lual em volta da fogueira, cantamos algumas músicas do Queen, o que levou meu pai a uma completa loucura nostálgica banhada a vinho. Manu acompanha Jamie na voz e no violão, sua voz é linda e agora ela faz parte da banda dele. Por influência de Jamie ela se apaixonou pela música e ele ensinou a ela tudo que sabe, ela também conseguiu uma bolsa na faculdade para estudar música. Quando pequena a essa hora ela já estaria dormindo, hoje ela está bebendo vinho e comendo marshmallows com a gente. Realmente o tempo passa muito rápido. Já Max só quer saber de trocar de namorada a cada semana, e não vê a hora de fazer sua primeira tatuagem. Garotos.

Michelle e Daniel tiveram dois ranhentinhos lindos, e nesse momento ela berra para que não se machuquem no deck. Alex e Emma também tiveram uma linda menina, que agora têm cinco anos e dorme tranquilamente na barraca apesar de todo esse barulho.

Perseu mudou-se para Nova York e mora com Kev há alguns anos, o melhor é que sempre vamos a Santorini para visitar a família dele, e até hoje não me canso de ver aquele campo de girassóis.

Nesse momento Adam e Diana estão viajando pela Itália comemorando a sua décima lua-de-mel. Ambos se aposentaram, e agora passam a maior parte do tempo se agarrando em algum lugar diferente no mundo.

Após algumas horas de cantoria e muita bagunça, quase todos já haviam ido dormir nas suas barracas. Reuni alguns edredons e travesseiros e os coloquei confortavelmente ao final do deck.

– Olha mamãe, aquelas ali parecem um patinho.

Disse Madeleine apontando para as estrelas e contornando os pontos com o dedinho. Estou deitada no travesseiro e meus filhos estão deitados na minha barriga um de cada lado enquanto acaricio o cabelo dos dois.

– Claro que não, é um cachorro. – Disse Adrian.

– Hum... Eu acho que é um macaquinho. – Brinquei e eles riram.

– Não mãe, nada a ver. – Adrian recriminou e apontou para o céu. – Olha ali o rabinho dele.

– Eu acho que é um macachopato. – Disse Jamie chegando e deitando ao nosso lado. As crianças explodiram na gargalhada e eu também.

– Tio Kev vai gostar dessa nova espécie. Ele vive nos chamando de nomes esquisitos que eu não entendo. – Disse Madeleine e eu ri.

– Minha princesa, seu tio Kev não bate bem da cabeça. – Disse Jamie. Madeleine sorriu e se aninhou junto a ele. Jamie me abraçou e ficamos ali, aconchegados olhando as estrelas.

– Mãe.

– Sim querido.

– Você acha que tem pessoas lá em cima olhando pra gente?

Jamie me olhou de soslaio e sorriu. Por um momento eu não sabia o que responder, até que as palavras vieram como música na minha cabeça.

– Certa vez alguém me disse "faça do nosso lago o nosso lugar especial, porque é onde você está mais próxima de Deus. Quando olhar para aquele céu cheio de estrelas, saiba que estarei sempre olhando por você". – Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e Jamie me abraçou ainda mais forte.

– Como anjos nos protegendo mamãe?

– Sim Madeleine, como anjos nos protegendo.

FIM