boatos

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Os jornais repercutiam a notícia de um hospital invadido em todos os meios jornalísticos, o desaparecimento de um interno que até então "não havia sido reconhecido", plantões novos a cada segundo interrompendo a programação diária, Sacha sussurrou alguns palavrões em russo quando pela quinta vez seu programa diário de culinária saiu do ar.

. - Bastardos usando tragédia... sensacionalistas americanos. Soltou alto jogando o faca de corte na pia, Samanta o observou com seu olhar materno, um silencioso aviso para que o russo mantivesse os palavrões em tom baixo.

- Bastardos. Repetiu Benjamin com um sorriso no rosto a procura de aprovação dos pais, o garotinho de nove anos comia seu cereal espalhando bolotas de chocolate pela bancada. - Bastardos... eles são...

. - Não ouse... Repreendeu Samanta com os olhos no marido. - Repetir o que seu pai fala menino.

. - Não seja burro Ben, Bastardo é um palavrão feio sua anta. Completou Anne com seu olhar de tédio e inglês fluente perfeito.

. - Você também não mocinha. Sacha repreendeu a filha. - E seu irmão não é burro.

. - Só ignorante. Dessa vez seu russo foi percetível, a garotinha loira de onze anos amarrou seus longos fios em um rabo de cavalos frouxo exibindo sua pose intelectual.

. - Eu não sou iogurte mamãe. Respondeu Ben fazendo bico. - Não quero ser iogurte mamãe.

. - É Ignorante seu....

. - Anelise Duskin Mantreal, juro por Díos que se clamar tu irnos nuevamente ficara uno mes sem celuñar. Todos se silenciaram ao ouvir a matriarca da família aumentar o tom de voz e usar sua língua materna para dar o sermão, Samanta jamais usava sua língua materna, apenas em casos extremos no qual não conseguia se lembrar da palavra certa em russo ou inglês, ou como na maioria das vezes, não conseguia controlar por estar realmente furiosa.

. - perdón madre. Respondeu Anne de olhos baixos brincando com sua torrada e ovos, Benjamin observou a irmã confuso esfregando a mão suja de leite na testa, olhou para seus pais que agora se encaravam, Sacha parecia sério enquanto sua mãe falava algo em tom baixo com os olhos castanhos duros.

. - A mamãe tá de mal do papai de novo?. Perguntou baixo para sua irmã, Anne levantou os olhos para o irmão porém só deu de ombros, antes da viajem aos Estados Unidos seus pais pareciam cada vez mais distantes, Benjamin não entendia, mas ela sim, havia escutado uma vez sua vó xingando Sacha por telefone, algo como "desistir del cretino e volver par tu casa com meus nietos". Anne adorava a Espanha, amava seus primos e tios, mas o medo tomou conta de si ao pensar em sair de Amsterdã, tinha sua família lá, e sentiria falta de seu papá.

. - Marta. Chamou Samanta pela babá que logo apareceu carregando consigo as mochilas de Ben e Anne. - Pode levar eles hoje?, Sacha tem uma reunião e preciso comprar as passagens para...

. - Vamos voltar sem o papá madre?. Perguntou Ben a referindo a Sacha.

Samantha sorriu, não seu bom e velho sorriso doce, mas um robótico e triste, tirou os cachos negros da franja dos olhos e levou as mãos para a cabeça do filho acariciado seus fios loiros. - Seu pai tem responsabilidades aqui, nós não. Seu olhar foi pra Sacha e ele compreendeu bem mais do que sua mulher falou ao filho.

Não era segredo que seu casamento estava a um fio, ainda mais agora, em outro país, Samantha era protetora demais e não aceitava que carregasse seus filhos junto com ele em suas viagens de trabalho, "meus", como ela se referiu na última discussão que tiveram, deixando o russo em pânico, a mulher que ele amava considerava deixa-lo e levar consigo seus filhos, a viajem para os Estados Unidos seria uma forma de tentar recuperar o que Sacha estava prestes a perder, mas o acidente com o irmão e a garota desconhecida em coma só o fazia trabalhar ainda mais e dar menos atenção a sua mulher e filhos.

Só queria que seu irmão não tivesse cometido o erro de...

. - Que hospital?. Perguntou para Samantha que tinha o controle em mãos pronta para desligar a TV.

. - Como?.

. - O nome do hospital, do atentado.

Samantha olhou para a TV confusa acompanhado o que o jornalista falava, o inglês de Sacha não era bom o suficiente para isso, após o final do plantão Samantha desligou a TV e olhou para o marido.

. - Uma clínica particular em Seattle, a alguns quarteirões daqui se não me engano, o nome é difícil de pronunciar... acho que brasileiro ou...

. - Merda!. Prequeijou alto jogando a toalha de seus ombros na pia e caminhando em direção ao escritório, desejava com todas as forças não estar certo, Elijah não faria isso, ele não poderia jogar o nome da empresa na lama de uma forma tão...

. - Então es iso?, no se despedí de tú niños, se fecha nessa droga de escritorio, precisamos conversan Sacha, no puedo víveres assim, no míos filhos. Samantha o seguiu, apontando o dedo para seu peito com seus olhos castanhos duros e pele avermelhada. - estamos en Amsterdam caso se lembre que ainda possui una familia. Decretou saindo do escritório pisando duro não deixando o russo dizer uma palavra sequer, ele sabia que desculpas só a deixaria ainda mais furiosa, "suas desculpas não vão levar Ben ao balé ou Anne ao recital, só vão se repetir até não haver mais motivos para pedir Sacha".

Ele gostaria de recuperar, gostaria de voltar a dois anos atrás quando sua única preocupação era Samanta e seus filhos, mas com o doença de seu pai era dever dele e de seu irmão manter o império Duskin, custe o que custar.

O Segredo de Amélia Onde histórias criam vida. Descubra agora