3. Castanho-escuro.

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09 de Agosto/ 06h:04min/ Manhattan, NY, Estados Unidos

Camila Cabello point of views


Acordei de repente, sem nenhum motivo a não ser um mau pressentimento ou talvez um sonho ruim que eu não conseguia me lembrar. O apartamento estava escuro, mas as frestas de luz que invadiam a sala através das brechas das cortinas, indicavam que já havia amanhecido. Estiquei o meu corpo devagar e sorri com a imagem do papai dormindo, ainda na mesma posição séria, e à primeira vista, desconfortável na qual adormecemos na noite anterior. Não podia acreditar que realmente pegamos no sono depois de muitas horas conversando banalidades.

Olhei para o meu lado, peguei o cobertor que cobria o braço do sofá e ajeitei o pano fino sobre o papai. Ele nem se mexeu. Nas pontas do pés, cruzei a sala em direção a escada, dando uma última olhada para trás antes de subir os degraus silenciosamente.

Entrei no extenso corredor e segui em direção ao meu quarto. Queria ver como tudo estava, se estava igual ao que me lembrava e, mais do que tudo, queria matar um pouco a saudade do lugar que desde sempre fora o meu refúgio, já que não tive a chance de o fazer antes, pois saí às pressas para a casa da Allyson.

Segurei a maçaneta com um sorriso bobo nos lábios e, no segundo em que abri a porta, balancei a cabeça. Tudo estava igual.

As paredes e tecidos lilás, toda a paixão exagerada que eu tinha por uma cor em particular, foi o que bastou para me fazer lembrar dos bons momentos que tive com minhas amigas entre essas quatro paredes. A saudade do que vivemos era imensa, só não era maior que a minha vontade em tê-las na minha vida outra vez e poder criar novas memórias. Eu realmente não tinha noção do tamanho da saudade que carregava em meu peito até a noite anterior.

Criar novas memórias, ter espaço para fazê-las, seria um caminho longo e complicado. Porém, eu estava disposta. Não era da minha natureza desistir facilmente. Eu costumava pensar que obstáculos podiam ser interessantes, se você soubesse tirar lições de cada um deles no final. Minhas amigas, cada uma delas, haviam construído muros aos seus redores, criando obstáculos imensos e, tornando tudo ainda mais complexo, por existir singularidades. Ninguém sente como o outro e com elas não era diferente. Enquanto uma guardava mágoa, outra guardava raiva e tinha o terceiro caso, onde existia a junção dos dois.

Por mais que eu odiasse todo sentimento de distanciamento, não podia esperar que fosse diferente. Ingenuidade seria o meu resumo, se assim eu pensasse. A necessidade de compreensão era de extrema importância. Confiança é algo muito difícil de conquistar e muito frágil para se perder. Eu havia perdido a delas quando decidi não dar explicações.

Os meus pensamentos estavam tão desorganizados naquela noite... Meu corpo só agia de maneira rápida e repetitiva, colocando o que julgava necessário dentro da pequena mala com a qual saí de casa. O que aconteceu naquela festa se tratava de um obstáculo, um obstáculo que eu cairia de cara no chão se tentasse ultrapassar.

Expirei com força.

''Seja quem você é e se orgulhe disso'' é uma linda frase, mas a equação certa para aplicá-la em sua vida é extremamente difícil. Exige tempo, paciência, confiança, coragem e, acima de tudo, muito amor. Na adolescência e alguns anos atrás, eu não possuía a resposta dessa equação que, agora, enxergo o quão simples é. Talvez por esse motivo eu tenha feito da Lauren o meu mundo. Ela tinha tudo e era tudo.

Quando eu olhava para a Lauren, eu enxergava valentia, coragem. Ela sempre dizia o que pensava, independente das consequências. Contudo, ela também sabia ser gentil e sempre estendia a mão quando alguém carecia. Ela não precisava de muito para que as pessoas se encantassem e se apaixonassem por ela, porque a essência dela se encarregava disso. Simples assim.

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