- Alícia on-
Pela sombra pude acompanhar que a besta cambaleou pra trás e grasnou, mal pude esperar e escancarei a porta, pronta pra atirar mais quando uma lâmina afiada demais pra ser desse mundo surgiu atrás da criatura e passou pelo pescoço dela. A cabeça descolou e rolou pro chão em segundos.
Mark estava atrás do corpo que caia no chão, e sem mais espera acendeu a luz do corredor.- Mallya on-
Rolei na cama e esbarrei em algo macio, a respiração agora rebatendo no meu pescoço me entregava que aquilo era outra pessoa. Eu não tinha dormido sozinha.
Lentamente os episódios de ontem foram me voltando a cabeça. Tudo que aconteceu e as confusões, a minha decisão.
Me virei de frente pro corpo que havia dormido comigo. Meus olhos bateram em cima do rosto angelical de Tae, e eu não consegui conter um sorriso, ele ficou comigo a noite inteira, tentava me consolar, explicando que foi a coisa certa, mas lá no fundo meu coração queria negar. A noite inteira minhas entranhas pareciam me alertar que a Alícia estava correndo perigo sozinha em Helltown, mas minha mente era mais forte do que meu coração para me impedir de continuar com o propósito.
Eu queria paz, e a teria.
Era impressionante como a mente e o coração podiam duelar dentro de um corpo. Mesmo um corpo não humano. Rolei na cama de novo, agora de barriga para cima e comecei a fitar o teto. Pensando no rosto arrasado da Alícia, a maneira que o horror ia a tomando e deixando cada vez mais desolada. Parecia que eu estava arrancando um membro de seu corpo com a minha decisão. Era quase isso. Eu só não queria mais incentivar seus distúrbios psicóticos a ponto de afetar sua sanidade. Que eu sempre duvidei da existência aliás.
- O que foi meu Mally? - Tae perguntou e eu virei a cabeça para encara-lo, ainda estava com os olhos fechados, e a voz rouca o deixou mais sexi do que angelical naquele momento.
Por um instante eu fiquei sem saber o que dizer, e Tae abriu os olhos, me encarando impiedosamente. Os olhos estavam azuis.
- Os seus olhos... - Comentei levantando a mão para acariciar sua maçã do rosto e ele segurou meu pulso, impedindo minha mão de continuar acariciando sua bochecha. Foi então que ele beijou as costas da minha mão e me devolveu ela.
- Está tudo bem Mallya. - Ele se aproximou, o corpo bem perto do meu, levando em consideração que ele estava sem camisa me deixou um pouco desconcertada.
- Tae o que você... - Mal terminei a pergunta e ele passou os lábios roçando na minha boca, mas então me deu um beijo na testa.
- O que está tomando sua mente tão cedo...? - Ele perguntou, ainda me fitando e os olhos foram voltando ao normal.
- Nada. - Respondi dando de ombros, agora a única coisa que tomava meus pensamentos era a boca dele, eu queria sentir seus lábios nos meus, ele havia me provocado de um jeito tão inicente que despertou algo dentro de mim, porém o caso já estava voltando pra minha cabeça e eu não prolonguei - Só estou com fome.
O problema era que na minha cabeça eu já tinha vários lugares que teria que visitar para descobrir alguma ligação com o caso. Era o meu último serviço, então havia a necessidade de fazê-lo bem feito, e assim o caso não saía mais da minha cabeça. Nem pelo Tae.- Alícia on-
- E aí o que descobriu? - Indagou Mark jogando dois cafés na mesa, um pra cada e mais uma tijela de leite pro Suguinha que estava deitado preguiçosamente no canto. Na mesma hora o bichano se esticou e foi beber o leite, mas deitado mesmo.
Eu puxei alguns arquivos e virei o notebook pra Mark ver até onde eu já havia chegado.
- Era um renegado. - Falei pegando o café e tomando, precisava de chocolate também, mas só ia comprar mais tarde, precisava do café primeiro. Não estava sendo fácil me manter acordada depois de passar a noite inteira sem dormir.
- Isso não foi obra da minha mãe então, ela não tem poder sobre um renegado. Isso é obra de caçador de sombras que não soube fazer serviço direito.
- Talvez. - Atenuei e então bebi mais um gole de café antes de acrescentar - Agora olhe na segunda página. - Pedi, e senti os olhos arderem de sono, não precisava me olhar no espelho pra saber que meus olhos estavam com olheiras, esbugalhados e levemente vermelhos pela exaustão, mesmo assim só conseguia pensar no café. Já era o décimo quinto copo que eu bebia, e mesmo assim o corpo parecia pedir por mais.
- "São burros e agressivos, e se guiados podem fazer muitas coisas por alguém, mas pra isso há a necessidade de ter o talismã pra poder guiar o renegado". - Mark leu uma frase de um dos artigos que eu separei e então levantou os olhos da tela para me fitar - Como assim talismã?
- O objeto que a pessoa mais gostava. Isso é o talismã que se a pessoa obtiver pode controlar o renegado. - Comuniquei e tomei mais um gole do café, o líquido quente desceu acendendo tudo pelo corpo, minhas articulações deviam estar descarregando adrenalina até pelas veias do jeito que eu estava indo.
- Isso pode aumentar as chances do autor do crime, que mandou o renegado atrás de você ontem a noite. - Atenuou Mark e eu entrelaçei meus dedos em cima da mesa, Suguinha descontraído com o leite nem parecia notar o clima pesado que estava começando a se formar na mesa, mas eu sentia que ele estava por dentro de tudo. Mesmo sem demonstrar, quase como se estivéssemos na mesma pele.
- Só tem duas pessoas que querem muito me matar, mas uma delas não ganharia nada com isso, ou seja Jong Up, que só quer brincar e precisa dos peões vivos pra isso, e a sua mãe. Então não tem mais ninguém que realmente me queira fora do caminho.
- Eu estava na sala de estar Alícia, ela não teria tanta audácia. - Mark rebateu indignado e eu arqueei uma sobrancelha na direção dele olhando pra dentro do copo de café, sem perceber havia terminado outro copo.
- Se você não estivesse, ela mesma teria entrado pra fazer o serviço. - Constatei amarga e ele enrijeceu o maxilar. O cabelo rapidamente se converteu pra vermelho.
- Ela não faria... - Ele estava revoltado, mas havia entendido a jogada. Sua mãe não havia realmente tentando me matar, ela só queria avisar que estava por perto. Acompanhando tudo. Talvez até mais perto do que imaginávamos.
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PRISON II
HorrorLaços e mortes ocorreram, mas o serial killer ainda está solto em Helltown, e após cumprir a trégua temporaria dos pais, as detetives Alícia e Mallya tiveram que sair por cinco dias de suas rotinas pra descansar, mas isso não quer dizer que elas vão...