- Pra onde você acha que ela foi agora? - Perguntei coçando os olhos num impulso nervoso, logo voltei as mãos pro volante.
- Ou pra delegacia como o planejado, ou se ela já sacou tudo pra minha casa.
- Isso quer dizer que ela vai pegar a pista? - Indaguei tentando buscar em algum ligar conturbado da minha mente um atalho pra pegar a pista e esbarrar com a Mallya no caminho, não davam mais de dez minutos, e eu conseguiria chegar, só não sabia se seria a tempo de encontra-la antes de Mark...
- Vai! - Tae confirmou com exatidão e eu pisei fundo derrapando o carro no acostamento e me jogando pra primeira saída da cidade que levava pra praia. Ia ser um retorno bem doloroso.- Mallya on-
Liguei a luz alta e desviei de uma moto pra poder ultrapassar.
Os postes estavam iluminando tão mal que eu não sabia mais dizer onde estavam as faixas da pista. E o pior é que se não dava pra enxergar direito eu ia perder a placa pra entrar pra praia. Eu tinha que chegar na casa do Tae antes que... Dei uma olhada no retrovisor e vi um carro preto ultrapassando os outros com uma velicudade absurda.
Droga já é tarde demais.
Pisei no acelerador e olhei pra ver se Huoyan estava bem no banco de trás. Com as garras grudadas no banco do meio o Dragão se firmava em cima do livro. Ótimo.
Pisei tudo que tinha pra pisar e o velocímetro foi subindo pra 180.
Pro Mark me alcançar ia ter que correr bem.
Desviei de um carro e mudei pra faixa da esquerda, eu ia precisar de espaço agora. Acelerei mais, estava indo rápido demais pra 210.
Tinha um palhaço num uno na minha frente que não saia de jeito nenhum do caminho, eu ia acabar batendo na traseira dele se não saísse logo. Por um instante, vi que Mark já estava quase encostando em mim, e então aumentei a luz alta na traseira do Uno, dessa vez ele saiu pra outra faixa e eu pisei mais. Estava no limite do carro quando Mark bateu no uno que estava atrás jogando ele no acostamento e invadiu a pista direita. Agora estava do meu lado baixando a janela.
- Encosta Mallya! - Ele gritou - Se não vai ser pior pra você! - Nesse mesmo instante vi que meu celular acendeu a luz da tela no banco do passageiro, mostrando 4 ligações perdidas do Tae e três da Alícia.
Baixei o vidro o suficiente pra mostrar meu dedo do meio e joguei o carro em cima dele, com força o bastante pra jogá-lo no acostamento e pisei mais fundo, o carro não ia mais, porém eu já havia deixado Mark pra trás.
Continuei com uma mão no volante e com a outra liguei pra Alícia no viva voz.
- Mallya graças a Deus! Onde você tá?!! - Ela atendeu desesperada e eu olhei no retrovisor vendo que pra minha infelicidade Mark já havia se recomposto e estava quase me alcançando de novo.- Alícia on-
- Sendo perseguida pelo Mark, na br 16. - Mallya inspirou irritada no telefone, e eu olhei a placa na pista, estava na br 9 ainda, ia delorar mais uns quatro minutos pra alcançar ela.
- Eu estou chegando, tenta não parar o carro, o Mark quer te matar, você vai ser a próxima da lista. - Expliquei e escutei um grasno de confusão ecoar do telefone na mão do Tae.
- Isso foi o que as últimas rosas lançaram?
- Não só isso, a próxima vítima tem que ser alguém com laços fortes de amizade e de preferência um híbrido com sangue de anjo.
- O quê??! - Ela indagou e eu suspirei vendo a placa da br 10 chegando.- Mallya on-
- Ele vai te matar por causa do nosso laço de amizade. - Ela repetiu e eu olhei no retrovisor de novo, Mark estava muito perto. Por um momento pude sentir meu coração na boca.
- Mas eu não tenho sangue de anjo! - Retruquei e senti a pancada atrás, estava correndo tanto que havia me esquecido do acidente mais óbvio que podia ocorrer se ele batesse na minha traseira como fez, o carro rodar e capotar.
E foi dito e feito.- Alícia on-
Um estrondo alto de lata e ferro se chocando subiu no ar e e eu senti meu sangue congelar nas veias. Logo em seguida a Mallya gritou.
Enfiei o pé com força no acelerador vendo a segunda placa da br 11.
Tae estava pálido e abrindo a porta em pânico.
- O que você vai fazer?! - Gritei pra ele, o carro estava correndo demais pra ele conseguir pular se era o que tinha em mente.
- Vou chegar de um jeito mais rápido. Te vejo lá. - Tae deu um aceno de cabeça corajoso na minha direção e então pulou do carro, logo em seguida escutei o barulho de suas asas e o carro tremeu quase dançando as minhas rodas quando ele sobrevoou o veículo. Com asas brancas.- Mallya on-
Bati a cabeça no recosto do assento e tentei sentir as pernas, estava confusa demais pra conseguir ter certeza se não havia quebrado nada. O sangue nas veias estava tão quente que quando levei a mão para trás para sentir se Huoyan estava bem senti queimar cada pedaço.
Os bancos de trás estavam quase intactos, e ele estava bem. Mas eu não ia ficar por muito tempo. Mark, que havia estacionado logo atrás estava se aproximando. Pude respirar ainda um pouco da fumaça do motor antes dele puxar a porta pra fora do carro e inclinar a cabeça pra mim.
- Quer que eu faça as honras de tirar você daí também? - Indagou ele com sarcasmo, e eu voltei a sentir minhas pernas. Não pensei duas vezes eu voltar com tudo os pés no peito dele. Seu corpo foi lançado para trás com tanta violência que eu pude ouvir um osso quebrando.
- Vamos Huoyan! - Chamei e então levantei rápido e peguei o livro, mas quando me virei pra correr fui encurralada contra o carro, Mark me deu um empurrão forte o bastante pra me fazer durrubar o livro e Huoyan juntos. E foi assim que ficaram, eu não ia deixar que aquele livro fixasse desprotegido, era importante demais pra ficar perto de Mark.
- Aonde você pensou que ia, hein Mallya? - Ele indagou segurando minha mandíbula com uma mão, e com a outra desferiu um soco no meu estômago. Minhas pernas chegaram a falhar com a dor e eu só não cai no chão porque Mark havia largado minha mandíbula e pegado meu pescoço, me forçando contra o carro, só então que senti que uma das minhas costelas não estava boa, fora que haviam cacos do parabrisa do carro na minha coxa direita.
Arfei, olhando os cabelos negros de Mark caírem em seus olhos como a noite e então senti outro golpe, desta vez um mais certeiro no peito, mas feito com um material bem particular pra me ferir. Uma faca de prata.
- Você vai morrer igual a sua mãe vadia. Mas a diferença, é que você vai pra um lugar bastante especial ao invés dela depois disso. Vou garantir que sua passagem pro outro mundo seja boa o bastante pra você...! - Ele sussurrou perto o bastante do meu ouvido e fiquei com ansia, sentindo um gosto metálico na boca se misturar com a saliva e a dor.
Foi quando um flash cortou minha visão e Mark foi lançado com força e brutalidade no chão.
Tinha um anjo de asas brancas logo na minha frente, só quando vi que ele veio correndo pra mim era meu Tae.
- Mally... - Ele soltou um soluço inexpressivo, quase incapaz de olhar aquela faca no meu peito, eu senti meus pés amolecerem e quando comecei a escorrer pelo carro Tae me pegou, puxando pro seu peito.
Huoyan havia largado o livro pra trás e avançado pra cima de Mark no chão, chamas e garras unhando com toda força pra cima do cavaleiro negro com tanta raiva que eu podia sentir a força das chamas dele em cima do rapaz. Tae pois a mão no cabo da faca e assentiu pra mim, ele ia retirar, queria parar com a minha dor, com o meu sofrimento, mas eu nem sentia mais, não conseguia respirar direito.- Alícia on-
Derrapei o carro girando todo o volante e pisei fundo no freio. Incrédula demais pra acreditar no que estava vendo. Conseguia sentir o calor irradiando na minha pele, e sabia que era por causa do Dragão da Mallya incendiando Mark, mas ainda pior, não conseguia digerir por quê tinha tanto sangue no chão, não conseguia acreditar no que estava vendo, na ferida, no corpo dela tão frágil jogada nos braços do Tae aos soluços, e pior ainda, a faca de prata no chão.
Um lamento carregado de dor escapou da minha boca, eu conseguia sentir a agonia de Mark na minha pele, e conseguia sentir a minha angustia e o meu desespero por ver a Mallya naquele estado.
Meu coração pesou e eu senti minhas pernas me levando na direção de Mark, os olhos não saíam de cima dele agora, foi tão instintivo que nem deixei meu lado racional assumir o controle dessa vez, a arma já estava destravada quando disoarei o primeiro tiro, depois outro, e mais outro, senti na minha própria pele a bala, o buraco fervendo na minha perna, mas eu não consegui parar, disparei de novo, de novo e de novo.
Apenas um tiro atingiu ele, Huoyan se afastou quando viu Mark derrotado no chão e foi pra Mallya, e eu também corri pra ela, mesmo mancando.
- Mallya... - Chamei e ela abriu um sorriso fraco na minha direção, estava abraçada no Tae, tremendo bastante. A camiseta dele estava ensopada de sangue. O que me alarmou demais a ponto de não saber se ela ia ter chance, foi então que ela desmanchou o sorriso, e meu coração afundou no peito, parecia que eu afundaria no chão quando ela fechou os olhos e parou de tremer. A dor tinha acabado, tudo dela no mundo tinha ido, se esvaindo tão depressa que eu nem senti quando cai de joelhos. A visão embaçada de lágrimas. Não conseguia olhar, e quando desviei os olhos, Mark havia sumido e o maldito livro também.
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PRISON II
TerrorLaços e mortes ocorreram, mas o serial killer ainda está solto em Helltown, e após cumprir a trégua temporaria dos pais, as detetives Alícia e Mallya tiveram que sair por cinco dias de suas rotinas pra descansar, mas isso não quer dizer que elas vão...