Prólogo

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20 de agosto de 1939

Querido diário,

Papai foi embora hoje! É triste, porque ele vai para a guerra, muitas pessoas morrem na guerra! Na primeira guerra mundial, por exemplo, milhares de pessoas morreram, papai está correndo risco de vida e isso me assusta! O medo de perdê-lo é enorme e eu não quero que nada disso aconteça! Ficaria arrasada se ele morresse na guerra!

Papai passou o máximo de tempo possível comigo hoje, antes de ir para a estação. Caminhamos pela cidade, encontramos vários conhecidos, andamos de cavalo, andamos pelas videiras e pelo estoque de vinho, posso dizer que fiquei com tentação de pedir para experimentar vinho, mas sei que ele não deixaria. Rimos muito e quando chegamos em casa percebi que estava na hora de ele partir.

Na estação de trem, várias famílias estavam se despedindo dos soldados. Muitas pessoas estavam chorando, um choro de medo, de apreensão. Se eu pudesse não deixaria que esses soldados fossem para a guerra, na verdade, não queria que existisse a própria guerra. Isso tudo é puro sofrimento e eu não desejo isso a ninguém! Não se sabe se papai vai voltar ou, até mesmo, quando ele vai voltar! Ao pensar na volta de papai, me um aperto no coração e o medo de que a guerra demore de mais.

Ah... pensando nisso me uma saudade!

O cobrador apita, e sabemos que está na hora de papai ir. Nesse momento um perto enorme no coração e um medo gigante, me invadem, e a única coisa que consigo fazer é dar um abraço bem apertado em papai. Sei que tudo vai ficar bem, mesmo estando errado! Eu sei que tudo tem um propósito, e papai estar indo para a guerra quer dizer alguma coisa. Ainda não sei o que, mais sei que quando descobrir, minha vida vai mudar para sempre!

Passados alguns poucos minutos que papai entrou no trem, o cobrador apita de novo, mas dessa vez muito mais forte e contínuo. Meu ouvido arde um pouco, pelo barulho fino e irritante, mas não ligo, porque estou concentrada em acenar para papai enquanto vejo o trem saindo da estação, se movendo lentamente, parecendo querer fazer drama. Essa partida lenta me faz ter mais medo.

Corro acompanhando o trem pela plataforma e vejo papai pela janela, fazendo amizade com o seu companheiro de cabine. Eles se apertam às mãos e falam alguma coisa que não consigo distinguir. O trem aumenta cada vez mais a velocidade e chega um momento que não consigo mais acompanhá-lo, ele anda mais rápido que eu. Chegando ao fim da plataforma, me obrigo a parar e acompanho o trem passando por mim e depois o final dele pelos trilhos, até fazer uma curva e desaparecer por entre as árvores.

Até mais papai, espero te ver logo!

Esse foi meu último pensamento antes de sair andando, acompanhando a multidão que se dispersava.

Correspondente De GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora