" Oi Mariana, tu não tem noção do que anda acontecendo aqui, a porra de uma policial tá morando no morro, mano a garota é foda, ela acha que eu não sei do básico, ela parece você, teimosa, mas você ainda me respeitava às vezes. O morro tá um caos, tua mãe continua na mesma, eu tô precisando de você aqui, tenta voltar por mim? O duro de achar vocês duas iguais é que, eu sei que o fim pode ser igual, que eu vou acabar com ela, igual eu acabei com você.
Volta ou me leva com você! "
...
Laureana pov-
Acabo de chegar em casa, Lelê respeitou meu silêncio, mas as vezes saia uma piadinha idiota.
Minha tia tava jogada no sofá, "morrendo", pediu explicação e eu só consigo dizer "agora não, por favor".
Ao entrar no quarto eu me deparei com uma mala, que merda tá acontecendo.
E um bilhete de merda.
"Presentinho, se proteja gata!"
Abri a mala, tem muita munição e uma M4A1 original, ela é perfeita, parecida com a do Lucas. Há algumas granadas no isopor.
Não tenho lugar pra colocar essa merda.
Eu não sei como ele conseguiu trazer isso pra mim, mas não é o que eu quero me preocupar no momento.
Coloco debaixo da cama e resolvo tomar um banho bem quente.
Eu fecho os olhos e sinto ele tocando em mim novamente, sinto seu cheiro, sinto seu hálito quente no meu pescoço.
Lucas é o vagabundo que conseguiu me fazer sentir bem, como ninguém.
Mas isso não significa que eu vou me sujeitar a ficar com ele, não depois do que ele fez, porém sinto que quando alguém como ele quer, não há nada que faça ele não ter o que quer, nem que seja por mal.
E eu me sinto enojada por isso, eu sei que eu estou julgando, mas em um mundo como esse, mulher tem que duvidar de todo mundo mesmo.
Saio do banho.
Vejo a Maria sentada na cama.
- ela costumava chegar de manhã, eu pedia explicação e ela não me falava nada, às vezes ela chegava mal, às vezes ela me puxava pra dançar, e eu percebia a felicidade no rosto dela.
Eu sabia que ela tava falando da Mariana.
Sentei do seu lado da cama.
- ela adorava o cheiro dos meus pães, ela costumava toda tarde as seis, comer um pão e explicar porque aquilo era tão bom.
Vejo alegria e tristeza no seu rosto.
Ela soltou meu cabelo e colocou atrás das minhas orelhas.
- o cabelo dela era claro, grande, os olhos dela eram como flores verdes, ela era linda, ela tinha o coração bom.
Ela puxou o pente que estava no criado mudo e eu me virei pra ela pentear.
Não precisa ser nenhum especialista pra ver o quanto ela é abalada pela morte da Mariana, claro ela é a mãe.
- Mas existe algumas coisas que precisamos ficar bem longe, ela não ficou.
- como o dono do morro?
Ela deu uma risada debochada e com dor.
- tudo pra você tem a ver com o dono do morro?!
Ela enrolou meus cabelos em sua mão e puxou pra trás com força.
Sua boca alcançou minha orelha e a voz dela muda de machucada pra amarga.
- se chegar perto do Lucas novamente, eu juro, por minha filha que eu vou matar você!
Ela solta meu cabelo e sai do quarto.
O que o Lucas tem a ver com a filha dela caralho?!
A forma como o jeito doce e machucado dela muda pra amarga, me deixa preocupada, é como se ela tivesse algum transtorno ou algum caso de psicose.
Meu celular toca.
Minha mãe.
- benção mãe, como vai?
- preocupada.
Ela diz.
- e porque está?
- preciso de notícias suas.
Ela diz o óbvio.
- eu estou tendo um descanso, preciso clarear um pouco as coisas da minha cabeça, não se preocupe, estou bem com minha água de coco, pegando um bronze na praia.
Ela sabe que é mentira.
- filha por favor, eu ...
- eu prometo te falar o que você precisa ouvir, se você me falar o que eu quero ouvir.
Ela riu.
- o que exatamente Laura?
- o que você sabe sobre o morro?
Sua respiração é pesada.
- não tem porque falar disso!
- só curiosidade, não quer saber onde estou?
- onde podemos nos ver?
- tem um bar, bem perto da entrada do morro, um tal de bigode, me espera lá, amanhã, as dez da manhã.
- não se mete em encrenca!
- te garanto que não.
Falamos sobre algumas novidades e desligamos logo depois.
...
Passei uma maquiagem simples, pra ver se consigo amar o que vejo no espelho.
Em vão.
Imagino que Mariana já se olhou muitas vezes nesse mesmo espelho e disse pra si mesma o quanto era linda, e eu aqui fazendo exatamente o contrário.
Ela é exatamente a garota perfeita, tenho certeza que causava inveja em muita gente por aqui.
Talvez me envolver com o Lucas não seja o que realmente eu preciso pra ter um tiro na cabeça, talvez seja algo maior que isso, não quero chegar sendo a garota que transa com um cara na primeira vez que ele dá em cima, mas não quero ser obrigada!
Talvez eu nem queira ajudar o serviço secreto, talvez eles nem precisem de mim, talvez eu seja um verde, talvez eu seja a isca, ou só uma idiota perfeita pra morrer, eu só quero morrer com uma bala na cabeça, não quero me suicidar.
Talvez eu esteja disposta a irritar o Lucas a ponto dele me matar.
Ou talvez não seja ele, talvez se o próprio dono do morro me matasse, eu estaria satisfeita, seria uma honra.
Alguém bate na porta.
Maria.
- a donzela não vem me ajudar não?
Ela diz extremamente amarga.
- acho que se você me matasse eu seria um peso a menos, mas acho que você não teria lugar pra esconder o meu corpo.
Digo.
Ela ri.
- está falando com a pessoa que escondeu o corpo da própria filha!
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Uma policial no morro
HumorEla sabia que corria risco de vida, mas ela não tinha nada a perder, a vida de merda que vivia valia a pena uma morte, sairia como heroína pelo menos, não como suicida. Mas se envolver com alguém foi um erro, foi um erro confiar, foi um erro achar q...