17 de Março de 1891
Minha filha,
Estou perdido. Perdido num mundo onde há somente horror e sofrimento. O que posso fazer para confortar-lhes, sabendo que não as protegerei? Perdão, perdão por ter me deixado consumir pela iniquidade.
Há algo de obscuro que sonda não só a mim, mas a você também. Um dia foi necessário para que eu percebesse que havia me tomado, apenas um segundo para perceber que também tenta consumir você. Temo por ti, minha querida. Tenha cuidado ao cruzar o lago. A casa que se encontra do outro lado não pertence ao seu caminho, não se quiser terminar ele viva. Prometa não pisar na mansão, não entrar nela. Por Deus, seja fiel ao último pedido de seu pai.
Se te assusto, leve em consideração o fato de isso poder ser apenas delírios de um moribundo, mas não se agarre a essa certeza.
Amo-te, Eliza. Amo-te como a terra ama a relva e a tarde o poente.Com amor, seu pai.
Ѽ
1896
— Pater noster, qui es in cælis: sanctificétur nomen tuum; advéniat regnum tuum; fiat volúntas tua sicut in cælo, et in terra.
Mais uma vez Eliza se perde em meio a oração e Sofia já impaciente cansa de lhe obrigar a continuar.
—Por que estás tão desatenta?
Ela não sabia bem a resposta, ou talvez soubesse exatamente o porquê, afinal todas às vezes em que olha para o terço em suas mãos se lembra do ocorrido naquela noite.
É começo de tarde e como sempre as duas estão rezando.
Muitas coisas se passaram na cabeça da jovem garota.
— Sofia! —ela brada quando uma ideia estapafúrdia surge em sua mente brilhante. —O que aconteceu com a esposa de Harrison?
Não que ela acreditasse em espíritos, mas convenhamos, não da para se manter completamente cético depois do que lhe aconteceu.
—Qual o motivo de sua curiosidade?
A mulher a indaga.
— Não és nada com que se deva se preocupar.
Após algum pequeno instante ela decide que já estás na hora da garota começar a conhecer um pouco da história da família que fará parte.— Pois bem, ela morreu no jardim, próxima ao lago, já estava doente quando aconteceu. Em seus últimos dias se encontrava acamada, sentia tantas dores que toda a mansão escutava seus gritos de dor durante a noite. Eles eram apenas meninos, mas William era ainda mais apegado a figura materna.— ela para um instante como se divagasse em meio as suas lembranças.—Certo dia ela acordou mais disposta, sem sentir todos os enjoos. Pela primeira vez desde sua doença eu vi está família voltar a sentir esperança. Harrison passou todos os dias acordados ao seu lado, não o culpo por ser tão amargurado hoje. Sei o quanto ele a amou e ainda a ama.
Uma breve pausa é feita antes que a senhora continue.
— William correu para o aposento de sua mãe e passou toda a manhã junto com ela, pois Harrison precisou voltar a seu trabalho. Quando começava a entardecer a duquesa fez um pedido a seu filho, gostaria de visitar seu jardim mais uma vez, e o menino não hesitou em atender sua mãe. Saíram sorrateiramente da mansão. Eu escutei suas risadas, estavam felizes, ele não fez por maldade, mas sei que assim como Harrison o culpa, ele também o faz. Minha senhora estava fraca demais, eu deveria os ter impedido, mas não o fiz.— uma lagrima solitária escorre por seu rosto e Sofia a enxuga rapidamente.— Ela não sobreviveu mais um dia. Morreu na frente de seu filho e William era jovem demais para fazer algo, ninguém poderia. Ainda consigo escutar seus gritos desesperados. Lembro-me com clareza de Harrison o chamar de zoantropo* e do que fez com o menino logo depois disto, mas esta lembrança é um tanto dolorosa para que eu consiga à revelar.
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A Mansão de Churchill
Любовные романыNão existe nada mais forte do que o laço que transforma duas pessoas em uma só alma. Amor verdadeiro, devoção, flama, ternura, não importa como, sempre mudará suas perspectivas e o destruirá. Após perder seu pai e ser praticamente vendida por sua m...