Dezembro de 1893
— Não morarei na mansão. Não podes me obrigar, mamãe.
— Não me venha com ironias, Eliza. — ela aponta o dedo em riste para o meu rosto. — Sou vossa mãe e vós me deve respeito.
— Ah, mamãe. — um sorriso tristonho surge em meu rosto. — Não se podes ter respeito por uma mulher que vende sua filha para ter uma boa vida.
O arrependimento do que a disse corrói minha alma ao vê-la se entristecer.
A mulher que tive como a que iria me proteger de tudo, caminha até onde estou com a expressão corrompida pelo ódio. Ao se aproximar levanta sua mão e antes que pudesse sequer imaginar o que poderia fazer acerta-me com um forte tapa em minha face. Com a força de sua mão e de sua raiva caio no chão.
Não poderia nunca manter-me de pé. Não quando és ela quem me machuca.
— Vais casar com Carter e vais morar naquela maldita mansão, vais me obedecer e será uma esplendorosa esposa.
Suas palavras saem em gritos, mas somente escuto ruídos.
Toco com delicadeza meu rosto e as lágrimas que tanto tentei segurar descem por minha face machucada. Me levanto para que ela não veja minha humilhação e vou para meu quarto sem olhar para trás.
— Me perdoe, não foi minha intenção provocá-la, mamãe.Ѽ
1896
Olhando para um calendário com folhas gastas, Eliza chega a conclusão de que o dia em que foi mais magoada por alguém fora quando sua mãe a entregou para ester lugar.
São dois anos desde que Carter a recebeu e ditou todos às regras que deveria seguir para terem "uma boa convivência." Os locais que lhe são permitida sua entrada são seu aposento, a biblioteca, a sala de recepção, de piano e a cozinha. É mais do que ela esperava e por mais mórbido que pudesse parecer ela começava a se acostumar com tudo isso.
Apesar de Sofia, uma senhora gorducha, de olhos fundos, sorriso gentil e temperamento duvidoso, dizer que Carter é impertinente e cruel, ele nunca a incomodou, o que a fazia não pensar tanto nele e em sua situação.
Eliza solta o calendário e começa a vasculhar as prateleiras com os vários livros que Harrison coleciona e finalmente encontra um que chama sua atenção. Senta-se em um canto qualquer e começa a leitura, quase que devorando todas as palavras escritas. Com a ajuda de um candelabro, ela ilumina o local escuro em que se encontra."Para Sherlock Holmes, ela é sempre a mulher. Raramente o ouvi mencioná-la por qualquer outro nome. Aos seus olhos, ela eclipsa todas do seu sexo e predomina sobre elas. Não que ele sentisse qualquer emoção semelhante a amor por Irene Adler."
— Senhorita Roberts!
Ao longe ela escuta a voz esganiçada de sua dama de companhia e assustada levanta-se rapidamente com o súbito pressentimento que já havia amanhecido.
Ao afastar um pequeno pedaço da cortina, percebe que a escuridão já não toma mais conta do céu. Um pouco desesperada, Eliza sai da biblioteca as pressas e corre até seus aposentos, deixando o livro mais uma vez em meio às prateleiras empoeiradas.
— Senhorita!
Mais uma vez o grito, no entanto este com a sensação de alívio ao perceber que Sofia está ainda subindo a escadaria.
Com cuidado ela fecha a porta atrás de si e pula em sua cama puxando os lençóis por sobre seu corpo. Alguns segundos depois a porta é aberta e Eliza tenta a todo custo não rir de toda situação ou deixar seus olhos tremendo.
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A Mansão de Churchill
RomanceNão existe nada mais forte do que o laço que transforma duas pessoas em uma só alma. Amor verdadeiro, devoção, flama, ternura, não importa como, sempre mudará suas perspectivas e o destruirá. Após perder seu pai e ser praticamente vendida por sua m...