A Herdeira Mestiça

A REALEZA

-Ora, ora...Como parece um ratinho assustado. - Desdenhou a mulher de vinho, ela parecia marfim esculpido. O salão riu, e Mariah sentia uma raiva imensurável, mas se deteve. Era fato que estava no meio de predadores.

-Não seja indelicada minha senhora. A garota pode ter a aparência frágil mas é deveras uma de nós, posso ver em seus olhos- O homem tinha a feição imponente e arrogante, mas sua voz soou ligeiramente sincera.

-Tomem seus lugares meus filhos. - Ordenou o homem. Então para a surpresa de Mariah, Pedro e Lucinda sentaram-se nos dois outros tronos. Pedro era muito mais que apesar um Lorde, era o sucessor do Mestre dos Vampiros. Seu rosto parecia ter sido esculpido por um artista da renascença, a perfeição dos traços no maxilar, a forma meio puxada dos olhos, os cabelos caídos sobre o rosto, á postura ereta. Um verdadeiro príncipe. E imaginou como era ver um Anjo celeste no inferno, era exatamente o que via agora.

-Srta.Graig? -Havia confusão no olhar de Lucinda. Mariah havia viajado nos próprios pensamentos, á noite em que foi morta, os olhos ansiosos de Pedro ao vê-la transformada, a preocupação dele no barco, a forma gentil com que a tratou. Ele estava sendo Cortez apenas já que neste momento Mariah sentiu que havia um precipício os separando.

-Sim? - Mariah percebeu que Pedro estava rijo e sem expressão como uma estátua de cera. Sentiu uma tontura e deu dois passos para trás.

-Parece fraca criança. Qual foi a ultima vez que se alimentou? - A mulher nobre estava espantada como se Mariah fosse uma aberração.

-Me alimentar? - A visão de Mariah estava turva, seria possível, um vampiro passar mal?

-Ora Pedro que imprudência. Devia ter levado a Srta. Graig para caçar. É o principio dos recém-criados, sabe disso.- O Mestre repreendeu Pedro que permaneceu imóvel encarando o nada.

A mulher se levantou, era elegante assim como Lucy, mas muito mais alta, tinha uma graça em cada movimento que fazia. Ela pegou um cálice de ouro entalhado no vidro e logo o aroma do liquido subiu as narinas de Mariah que sentiu um aperto no estômago como se tivessem socado sua barriga. A garganta estava seca como cacos de vidro arranhando de dentro para fora, as veias por baixo da pele, ficando nítidas, sobressaiam da pele pálida, estava sedenta. A mulher foi até ela, mal tinha alcançado a menina e Mariah atacou engolindo o liquido, que desceu quente e fresco, era um gosto metálico ,doce e amargo ao mesmo tempo. Mas não era o suficiente, Mariah rosnava, suas pupilas estavam dilatadas, os olhos estavam totalmente negros sem nenhuma parte branca.

-Tragam !! -Ordenou a mulher a dois criados que usavam capuz assim como cocheiro. Segundos depois eles entraram com um cervo ainda meio vivo, meio morto. Mariah olhou hesitante para a mulher que sorria vibrante com a cena, o instinto falou mais alto e Mariah deu o golpe fatal no cervo e o estraçalhou. E todos ao redor riam e se orgulhavam do novo monstrinho. Pensou ela. No mesmo momento se levantou suja de sangue, olhou para as mãos vermelhas.

-Monstros!!!!-Em um grito ensurdecedor, Mariah correu para fora da sala, buscando a saída daquele lugar, ela queria chorar mas não era possível, não havia lagrimas nela, não havia nada. Ela desceu as escadarias atordoada, então com uma força que jamais pensou que tinha abriu as duas enormes portas da castelo e saiu correndo. Os raios de sol mal pegaram nela mais os que pegaram queimaram lhe a pele, nos ombros e no rosto. Mariah entrou na floresta acinzentada, não conseguia parar de correr, só queria fugir de tudo aquilo.  - Não sou como eles! Jamais serei !!

Declarou ela enquanto corria colina abaixo, chegou as extremidades do território Molfenter, pulou o riacho e continuou sua corrida, ate chegar a uma fonte de águas cristalinas naturais no centro de um cerco de arvores, peixinhos coloridos nadavam de lá para cá, Mariah se sentou na beirada e abraçou os joelhos, se permitindo chorar. [...]